Quando falamos em saúde do solo, estamos nos referindo à capacidade deste em produzir plantas saudáveis, expressando todo o seu potencial produtivo, previsto pela genética do vegetal. É importante lembrar que a demanda por alimentos tem crescido em função do aumento populacional do planeta. Em contrapartida, estima-se que 40 % do solo em todo o mundo esteja degradado, pela adoção de medidas não conservacionistas.
Estudos sugerem estratégias que podem ser empregadas para melhorar a qualidade do solo, desde preservar a biota, até a utilização de práticas conservacionistas que promovem o uso sustentável do mesmo. Para Peche Filho (2019), na prática, gerenciar a saúde do solo é investir na qualidade física e biológica da cobertura, adotar medidas de manejo integrado de pragas e doenças, e no uso de produtos biológicos. Ainda, segundo este autor, é de extrema importância a busca pela biodiversidade na rotação de culturas, além da qualidade na correção do solo.
O sistema de plantio direto (SPD) também representa uma prática conservacionista e sustentável, que consiste na ausência ou mínimo revolvimento do solo. Em circunstâncias iguais, os teores de matéria orgânica são maiores em SPD em comparação ao cultivo convencional. Isso ocorre porque o SPD promove a preservação da matéria orgânica do solo, pois reduz significativamente a taxa de decomposição, de acordo com Mielnicsuk et al. (2003) (citado por ROSCOE et al., 2004), o que mantém as comunidades microbianas mais constantes e ativas.
Matéria orgânica do solo: composição
O conteúdo de matéria orgânica do solo (MOS) é considerado um dos principais indicadores de sustentabilidade e qualidade ambiental em agroecossistemas (ROSSI et al., 2011), e também excelente indicador na qualidade do solo, como citam Cunha et al. (2015). A MOS é o produto de resíduos da biota, principalmente dos vegetais, parcialmente decompostos e sintetizados, em vários estádios de complexidade e diversidade estrutural (SILVA; RESCK, 1997; BATJES, 1999; citados por ROSSI et al., 2011). A quantidade de MOS depende da entrada de material orgânico, da sua taxa de mineralização, da textura do solo e do clima, entre outros fatores (COSTA et al., 2013).
A MOS pode ser dividida em: biomassa, composta pela biota do solo; detritos, que são tecidos mortos identificáveis; e húmus, representado por tecidos mortos não identificáveis. O húmus possui ainda uma subdivisão, em substâncias húmicas (SH) e substâncias não húmicas (SNH). As SNH são produzidas pelas atividades biológicas da biota do solo e compostas, basicamente, por açúcares complexos, aminoácidos, lipídeos, resinas, ligninas e ácidos orgânicos de baixo peso molecular. Estas substâncias podem atuar na mitigação de estresses promovidos pela ação de agrotóxicos e outros componentes aplicados na lavoura. Isso ocorre, segundo Caron et al. (2015), pela presença de uma rede de cargas negativas na sua estrutura, capaz de reagir com os compostos orgânicos que contém nitrogênio.
Metodologicamente as SH são fracionadas em função de sua solubilidade a diferentes valores de pH em: ácidos húmicos (AH), ácidos fúlvicos (AF) e humina (HUM) (ROSSI et al., 2011), que constituem aproximadamente 60-80 % da MOS. De acordo com Caron et al. (2015), os ácidos húmicos constituem a maior fração das substâncias húmicas, e tratam-se de precipitados escuros, solúveis em ácidos minerais e solventes orgânicos, com elevado peso molecular e grande quantidade de nitrogênio.
Caron et al. (2015) cita que os ácidos fúlvicos são solúveis em água, soluções ácidas e alcalinas, apresentam menor peso molecular em relação aos ácidos húmicos, maior quantidade de compostos fenólicos e de grupos carboxílicos e uma menor quantidade de estruturas aromáticas, o que lhes conferem melhor solubilidade em água e maior capacidade de troca catiônica. As huminas, segundo Primo et al. (2011), são compostos insolúveis em meio alcalino e meio ácido, apresentando composição quimicamente heterogênea e complexa, correspondendo à fração menos humificada das substâncias húmicas.
Matéria orgânica do solo: importância e benefícios
De acordo com Alcântara e Madeira (2008), os benefícios da MOS podem ser visualizados na fertilidade, nas propriedades físicas e na biota do solo. No quesito fertilidade do solo, a MOS é capaz de fornecer macro e micronutrientes para as culturas. É também responsável pelo aumento da capacidade de troca de cátions (CTC), devido à retenção dos cátions presentes no solo, que serão disponibilizados às culturas em seguida. Além disso, também está associada ao incremento da superfície específica do solo, aumentando a retenção de nutrientes, o que os torna diretamente disponíveis às plantas.
A matéria orgânica tem implicações sobre o comportamento físico do solo, quer seja por atuar diretamente sobre alguns de seus processos físicos, quer seja por seus efeitos indiretos (BRAIDA et al., 2011). Apresenta a capacidade de aumentar o armazenamento de água no solo, devido a melhorias na retenção e infiltração da água de chuvas ou irrigação, e também promove a agregação de partículas do solo. A agregação influencia a porosidade, a infiltração e retenção de água, a resistência do solo à compactação, acarretando reflexos indiretos no desenvolvimento e produtividade das culturas (LYNCH & BRAGG, 1985; BAUMGARTL & HORN, 1991; citados por BRAIDA et al.,2011).
Como citado no texto sobre a qualidade biológica do solo, a disponibilidade de MOS é fundamental, uma vez que é dela que a maioria dos organismos obtém energia e elementos orgânicos e minerais para funcionamento de seus metabolismos. De acordo com a Embrapa (2015), qualquer mudança que afeta a matéria orgânica também afeta os microrganismos, só que os efeitos na comunidade microbiana podem ser detectados com mais rapidez, o que torna esses seres bioindicadores da saúde do solo.
Nas plantas, a ação, principalmente das SH, leva a uma série de alterações metabólicas e nas sinalizações hormonais, o que leva a planta a expressar seu máximo potencial genético. Com isto, ocorre o aumento do crescimento radicular, o que promove maior absorção de água e minerais, ocasionando um incremento na produtividade da lavoura.
Como preservar a matéria orgânica do solo?
Nos agroecossistemas, os estoques de MOS podem ser influenciados por diversas práticas de manejo (COSTA et al., 2013). A utilização de práticas sustentáveis como o sistema de integração lavoura pecuária, plantio direto, a utilização de culturas de cobertura e pousio, sistemas agroflorestais, a longo prazo, pode aumentar e/ou manter a quantidade e a qualidade da MOS, tendo como consequência a melhoria das propriedades químicas, físicas e biológicas do solo (LAL, 2004).
Segundo uma notícia publicada no portal online da Embrapa (2020), pesquisadores desenvolveram uma tecnologia que permitirá revelar aspectos relacionados ao funcionamento biológico do solo que, até então, passavam despercebidos nas análises de fertilidade, mas que podem impactar o desempenho econômico das lavouras e a sustentabilidade dos agroecossistemas. Trata-se da BioAS, que consiste na análise das enzimas beta-glicosidase e arilsulfatase, relacionadas ao potencial produtivo e à sustentabilidade do uso do solo, funcionando como bioindicadores da saúde do solo. Práticas adequadas e sustentáveis de manejo proporcionam elevadas quantidades dessas enzimas.
Um dos principais pontos positivos desta análise é a capacidade de previsão de mudanças positivas ou negativas, o que permite ao agricultor a antecipação de adoção de medidas. Ainda de acordo com a notícia, a importância econômica da BioAS está relacionada ao rendimento de grãos e também à MOS.
A ILSA Brasil dispõe do fertilizante organomineral N-TIME+, altamente eficaz, que é produzido à base de AZOGEL. Sua moderna tecnologia de produção permite obter um produto único e de alta homogeneidade, pois não há variações de matérias-primas e tampouco nas garantias. Esse fertilizante promove o fornecimento de N de forma gradual e constante durante todo o ciclo produtivo das plantas, favorecendo a expressão do potencial genético e maiores produtividades dos cultivos, além de permitir o desenvolvimento vegetativo equilibrado. Por esta razão, estimula a atividade da biota do solo, colaborando para a preservação da MOS.
Referências bibliográficas
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Autores
- Agr. Msc. Aline Tramontini dos Santos
- Agr. Carolina Custódio Pinto
- Agr. Msc. Thiago Stella de Freitas