A soja cultivada, espécie Glycine max [(L.) Merrill], é uma planta herbácea, de estatura ideal entre 60 a 110 cm, pertencente à família das Leguminosas. O sistema radicular da soja, de acordo com Venetti e Gastal (1979), é composto por uma raiz principal e um grande número de raízes secundárias distribuídas em fileiras ao longo da raiz principal. Segundo Nepomuceno et al. (2021), as principais variedades comerciais apresentam caule híspido e pouco ramificado, com folhas trifolioladas. Esses autores ainda citam que a soja possui flores de fecundação autógama, de cor branca, roxa ou intermediária, e desenvolvem vagens que podem conter de uma a cinco sementes lisas, elípticas ou globosas. São plantas que apresentam crescimento indeterminado (sem racemo terminal), determinado (com racemo terminal) ou semi-determinado (intermediário).
O grão da soja é rico em proteínas, potássio, cálcio, magnésio, fósforo, cobre e zinco, sendo também fonte de algumas vitaminas como complexo B e ácido ascórbico (vitamina C). Por este motivo, seu grão é amplamente usado na alimentação animal e humana. Segundo a APROSOJA, além do grão como alimento funcional, a soja é utilizada para a fabricação de produtos como chocolate, temperos prontos e massas. Derivados de carne também costumam conter soja em sua composição, assim como misturas para bebidas, papinhas para bebês e muitos alimentos dietéticos. Do óleo extraído do grão (aproximadamente 15 % da produção de soja em grão são destinados à fabricação de óleo), são produzidos óleo de cozinha, tempero de saladas, margarinas, gordura vegetal e maionese. Do processo de obtenção do óleo refinado de soja, obtém-se a lecitina, um agente emulsificante, muito usado para fabricação de salsichas, maioneses, sorvetes, achocolatados, barras de cereais e produtos congelados. Outro segmento de produtos alimentícios que aproveita a soja é o de bebidas prontas – leite e sucos de frutas à base de soja.
Ainda, a APROSOJA comenta que, na história comercial mais recente, pela segurança e abundância em termos de oferta, o óleo de soja se tornou a principal matéria-prima para a produção do biodiesel, o combustível renovável que contribui para reduzir a emissão de gases poluentes no meio ambiente. O biodiesel é composto por diesel de petróleo e óleo extraído de várias oleaginosas. O óleo de soja representa mais de 80 % da demanda total da fabricação de biodiesel no Brasil.
Origem e importância econômica
A primeira referência à soja como alimento data de mais de 5.000 anos, na China, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (APROSOJA). Ainda, a APROSOJA cita que um dos principais indicativos que atestam a importância cultural e nutricional da soja para os chineses é o fato de que já nos anos 200 antes de Cristo (a.C.) o grão era a matéria-prima essencial para a produção do tofu (leite de soja coalhado), tendo representado por milhares de anos a proteína vegetal, o leite, o queijo, o pão e o óleo para os chineses. Entretanto, foi só após o final da Primeira Guerra Mundial, em 1919, que o grão de soja se torna um item de comércio exterior importante. Pode-se considerar o ano de 1921, quando é fundada a American Soybean Association (ASA), como o marco da consolidação da cadeia produtiva da soja em esfera mundial (APROSOJA).
No Brasil, de acordo com a APROSOJA, embora haja registros históricos que apontam para cultivos experimentais de soja na Bahia já em 1882, a introdução da soja tem o ano de 1901 como marco principal: é quando começam os cultivos na Estação Agropecuária de Campinas e a distribuição de sementes para produtores paulistas. O grão começa a ser mais facilmente encontrado no País a partir da intensificação da migração japonesa, nos anos 1908. Em 1914, é oficialmente introduzida no Rio Grande do Sul – estado que apresenta condições climáticas similares às das regiões produtoras nos Estados Unidos (origem dos primeiros cultivares, até 1975). A expansão da soja no Brasil começa mesmo nos anos 1970, quando a indústria de óleo começa a ser ampliada. O aumento da demanda internacional pelo grão é outro fator que contribui para o início dos trabalhos comerciais e em grande escala da sojicultura.
A sojicultura constitui-se na principal cultura agrícola do país destinada à exportação, conferindo ao Brasil uma posição de destaque no cenário agrícola mundial como o maior produtor mundial desta commodity no ano safra de 2022 – até o momento, seguido por Estados Unidos e China. Segundo o 10º Levantamento de Safras, publicado pela CONAB em julho de 2022, nesta safra foram semeados 40.950,6 mil hectares, 4,5 % superior ao da safra 2020/21. A produção obtida foi de 124.05 mil toneladas,10,2 % inferior à safra 2020/21, e a produtividade média alcançada foi de 3.029 kg ha-1. Ainda de acordo com este Levantamento, a influência do fenômeno La Niña na Região Sul e no Mato Grosso do Sul, com drástica redução das precipitações, foi determinante para a redução da produtividade nessas regiões, consequentemente, da produção total de soja no país. O Estado do Mato Grosso consolidou-se como o maior produtor nacional, seguido pelos Estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e MATOPIBA – importante região de expansão da fronteira agrícola do País, que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, segundo dados divulgados pelo IBGE (2022).
Além disto, a soja é uma das culturas que melhor se adapta ao sistema plantio direto, sendo a principal cultura para compor os sistemas de rotação lavoura-pastagem, não só devido a aspectos econômicos, mas, também, por ser eficiente fixadora de nitrogênio atmosférico (Kluthcouski & Stone 2003). Além disto, Debiasi e Franchini (2012) citam que o sistema de integração lavoura-pecuária pode contribuir para a sustentabilidade da produção de soja nas diferentes regiões brasileiras, constituindo-se em uma opção para aumentar e diversificar a renda do produtor e melhorar a qualidade do sistema plantio direto.
Manejo da soja
Dos elementos climáticos, a temperatura, o fotoperíodo e a disponibilidade hídrica são os que mais afetam o desenvolvimento e a produtividade da soja (Farias et al., 2007). Ainda de acordo com esses autores, estresses abióticos como a seca, excesso de chuvas, temperaturas muito altas ou baixas, baixa luminosidade, etc., podem reduzir significativamente rendimentos em lavouras e restringir os locais, as épocas e os solos onde espécies comercialmente importantes podem ser cultivadas. Estes autores também citam que a soja se adapta melhor às regiões onde as temperaturas oscilam entre 20 ºC e 30 ºC, sendo que a temperatura ideal para seu desenvolvimento está em torno de 30 ºC.
Em relação à disponibilidade hídrica, a soja é muito sensível ao déficit hídrico nas fases de estabelecimento, floração e enchimento de grãos. A fase de crescimento vegetativo é menos afetada pela carência de água (Franchini et al., 2016). Estes autores ainda citam que as características de solo também influenciam decisivamente no desempenho dessa oleaginosa, já que determinam a disponibilidade de água, nutrientes e oxigênio às plantas, bem como a resistência que o solo impõe ao crescimento das raízes. As plantas de soja têm preferência por solos profundos, de textura média (com no mínimo 15 % de argila), bem drenados e com topografia plana ou levemente ondulada. A faixa de pH ideal é próxima de 6,0, onde há maior disponibilidade de macronutrientes e micronutrientes.
Em relação às exigências nutricionais, o elemento mais requerido pela soja é o nitrogênio que é obtido, em pequena parte, através do solo (25 % a 35 %) e, na maior parte, pela fixação simbiótica do nitrogênio (65 % a 85 %). Portanto, a inoculação é um processo importantíssimo na produção de soja, e deve ser feito com inoculante de boa qualidade, para ter a máxima eficiência na fixação simbiótica do nitrogênio do ar, que é realizada através das bactérias nos nódulos das raízes da planta. Para que a fixação simbiótica seja eficiente, há a necessidade de se corrigir a acidez do solo e fornecer os nutrientes que estejam em quantidades limitantes. Na sequência, os elementos mais exigidos são o potássio, o enxofre e o fósforo. Em relação aos micronutrientes, é importante observar as pequenas quantidades necessárias para suprir a cultura da soja. Os micronutrientes, apesar de serem exigidos em menores quantidades, não são menos importantes. De acordo com Borkert et al. (1994), a soja necessita, comprovadamente, dos micronutrientes boro, cobre, manganês, zinco, molibdênio e cobalto.
No próximo BLOG será apresentado e discutido o programa de manejo nutricional sugerido pela ILSA para a cultura da soja.
Referências bibliográficas
Acompanhamento de Safra Brasileira – Grãos. 10º Levantamento, Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), julho de 2022. Disponível em: https://www.conab.gov.br/
Associação Brasileira dos Produtores de Soja (APROSOJA Brasil) – Disponível em: https://aprosojabrasil.com.br/a-soja/
BORKERT, C.M.; YORINORI, J.T.; CORRÊA-FERREIRA, B.S.; ALMEIDA, A.M.R.; FERREIRA, L.P.; SFREDO, G.J. Seja o doutor da sua soja. Potafós, Informações Agronômicas, n. 66, 1994. 17 p.
DEBIASI, H.; FRANCHINI, J.C. Atributos físicos do solo e produtividade da soja em sistema de integração lavoura-pecuária com braquiária e soja. Ciência Rural, Santa Maria, v.42, n.7, p. 1180-1186, 2012.
FARIAS, J.R.B.; NEPOMUCENO, A.L.; NEUMAIER, N. Ecofisiologia da soja. Circular Técnica, Embrapa Soja, Londrina, n. 48, 2007. 9 p.
FRANCHINI, J.C.; BALBINOT JR., A.A.; DEBIASI, H.; COSTA, J.M.; SICHIERI, F.R.; TEIXEIRA, L.C. Soja em solos arenosos: papel do Sistema Plantio Direto e da Integração Lavoura-Pecuária. Circular Técnica, Embrapa Soja, Londrina, n. 116, 2016. 10 p.
Indicadores IBGE: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – Estatística da Produção Agrícola, 2022. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/2415/epag_2022_maio.pdf
KLUTHCOUSKI, J.; STONE, L. F. Manejo sustentável dos solos dos Cerrados. In: KLUTHCOUSKI, J.; STONE, L. F.; AIDAR, H. Integração lavoura-pecuária. Santo Antônio de Goiás: Embrapa, 2003. p. 61-104.
NEPOMUCENO, A.L.; FARIAS, J.R.B.; NEUMAIER, N. Características da soja. Embrapa Soja, artigo on-line. 2021.
VERNETTI, F.J.; GASTAL, M.F.C. Descrição botânica da soja. Circular Técnica, Embrapa, Pelotas, n. 7, 1979. 11 p.
Autores
- Eng. Agr. Msc. Aline Tramontini dos Santos
- Eng. Agr. Msc. Carolina Custódio Pinto
- Eng. Agr. Msc. Thiago Stella de Freitas