Quimicamente, o potencial hidrogeniônico (pH) se refere a quantidade de íons de hidrogênio (H+) presentes em um líquido. Quanto maior a concentração deste elemento em uma solução, maior a acidez do sistema. O pH é apresentado em escala logarítmica, a qual varia de 0 a 14,0, onde: inferior a 7,0 corresponde a um sistema ácido; igual a 7,0, sistema neutro; e maior que 7,0, alcalino. O pH do solo é um dos principais fatores que regulam a estabilidade e o equilíbrio do solo. Além de influenciar a solubilidade dos nutrientes e as transformações químicas no solo, afeta diretamente a atividade dos microrganismos que são responsáveis pela decomposição da matéria orgânica, especialmente as bactérias nitrificantes.
De acordo com Camargos (2015), no Brasil, o maior problema é que cerca de 70 % dos solos são ácidos (pH em torno de 5,0), tornando a prática de calagem do solo indispensável em diversas regiões. Embora existam algumas plantas capazes de se desenvolverem em solos com essas condições, a maioria das espécies cultivadas (como trigo, milho, soja e algodão) precisam de solos com pH mais elevado, em torno de 6,0. A principal forma de determinação da acidez do solo é através da análise do pH, informação de extrema importância para a avaliação da fertilidade do solo, pois, como já mencionado, está diretamente ligado à disponibilidade de nutrientes.
Componentes da acidez do solo
A acidez do solo, de acordo com Lopes et al. (1990), pode ser dividida em acidez ativa e acidez potencial, que, por sua vez, em acidez trocável e acidez não trocável. A acidez ativa se refere à concentração de íons H+ na solução do solo, e é medida através do pH. Apesar da fração de íons H+ na solução do solo ser muito reduzida, ela é quimicamente ativa e, entre outros aspectos, exerce grande efeito na disponibilidade de nutrientes (CAMARGOS, 2005).
Já a acidez potencial, também denominada de acidez total, corresponde às substâncias ou aos compostos que liberam íons H+ para a solução do solo, ocasionando acidificação do meio. Em outras palavras, segundo Camargos (2005), refere-se ao total de íons H+ e Al+3 adsorvidos aos coloides na fase sólida do solo. A acidez trocável, componente da acidez potencial, refere-se à quantidade de Al+3 adsorvido pelas cargas negativas do solo (CTC). Ela bloqueia estas cargas, mantendo o equilíbrio com a solução do solo. A acidez não trocável, por sua vez, é a quantidade de hidrogênio em ligações coordenadas aos grupos funcionais dos coloides orgânicos (matéria orgânica do solo) e inorgânicos (óxidos e argilas).
Consequências da acidez do solo
Os solos podem ser naturalmente ácidos devido à própria pobreza em bases do material de origem, ou a processos de formação que favorecem a remoção de elementos básicos como K, Ca, Mg e Na (LOPES et al., 1990). Ainda de acordo com este autor, os solos podem ter sua acidez aumentada por cultivos e adubações que levam a tal processo, mas, em qualquer caso, a acidificação se inicia, ou se acentua, devido à remoção de bases da superfície dos coloides do solo.
Segundo Filho (2011), a acidez no solo é causada pela alta concentração de H+ na solução do solo e pelo alumínio (Al+3), sendo este último apenas um componente da acidez, já que é ele quem gera íons H+ na solução do solo, de onde as plantas absorvem macro e micronutrientes para sua sobrevivência. Um solo que apresenta pH abaixo de 5,0 é considerado ácido, e compromete a absorção de diversos nutrientes, em especial N, P, Ca e Mg, além de promover toxidez às plantas em função da concentração de Al+3.
A acidez do solo limita a produção agrícola em diversos locais do mundo. A deficiência de Ca e a toxidez causada por alumínio e manganês são os fatores que mais têm limitado a produtividade de solos tropicais e subtropicais (CAIRES, 2013), e são promovidos pela acidez elevada do meio de cultivo. Ainda de acordo com este autor, a acidez nas camadas subsuperficiais, em casos de níveis altos de Al e/ou em deficiência de Ca, pode comprometer a penetração das raízes e, por consequência, a nutrição das plantas, deixando-as suscetíveis ao estresse hídrico. Partindo deste princípio, conclui-se que a maior consequência da acidez de um solo é os prejuízos causados pelo baixo rendimento dos cultivos, além da baixa qualidade de grãos.
Correção da acidez: calagem do solo
Dos recursos minerais brasileiros, o calcário é o mais abundante, com reservas de aproximadamente 49 bilhões de toneladas (NATALE et al., 2008). Desse modo, a calagem apresenta-se como a alternativa mais barata e rápida de corrigir a acidez, devido ao preço relativamente baixo desse insumo (AMB, 2006; citado por NATALE et al., 2008). De modo geral, quando a reação do solo é ácida, a aplicação de calcário é o investimento que maior retorno econômico dá ao produtor rural, mesmo quando comparada a outras práticas agrícolas (RAIJ, 1991, citado por NATALE et al., 2008).
A calagem é a prática mais eficiente para elevar o pH, os teores de Ca e a saturação por bases e reduzir Al e Mn trocáveis no solo (CAIRES, et al.,2002). Como cita Veloso et al. (1992), o cultivo agrícola em solos ácidos exige a aplicação de corretivos, os quais ao elevarem seu pH, neutralizam o efeito dos elementos tóxicos e fornecem cálcio e magnésio como nutrientes e, assim, melhoram o ambiente radicular para as plantas absorverem os nutrientes.
De acordo com Santiago e Rosetto, a calagem pode também aumentar a disponibilidade de fósforo, já que diminui os sítios de fixação no solo; diminuir a disponibilidade de alumínio e manganês através da formação de hidróxidos, que não são absorvidos; aumentar a mineralização da matéria orgânica aumentando a disponibilidade de nutrientes e favorecer a fixação biológica de nitrogênio. Ainda de acordo com estes autores, em relação às propriedades físicas do solo, a calagem aumenta a agregação, pois o cálcio é um cátion floculante e, com isso, diminui a compactação.
É de extrema importância destacar que, para que a adubação atinja o efeito esperado, o pH do solo deve estar corrigido e os níveis de Al e Mn trocáveis estejam controlados. Desta forma, mais uma vez, faz-se importante falar sobre o valor da análise de solo. É apenas através dela que é possível entender a dinâmica dos nutrientes e saber como e quando agir, para que todos os tratamentos feitos apresentem sua máxima eficácia, resultando em altas produtividades e alta rentabilidade ao produtor.
Referências bibliográficas
AMB – Anuário Mineral Brasileiro. Brasília: Departamento nacional de produção mineral, 2006. 58p.
CAIRES, E.F.; BARTH, G.; GARBUIO, F.J.; KUSMAN, M.T. Correção da acidez do solo, crescimento radicular e nutrição do milho de acordo com a calagem na superfície em sistema plantio direto. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 26, p. 1011-1022, 2002.
CAIRES, E.F. Correção da acidez do solo em sistema plantio direto. Informações Agronômicas, International Plant Nutrition Institute, Piracicaba, nº 141, 2013. 13 p.
CAMARGOS, S.L. Acidez do solo e calagem (reação do solo). Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá, 2015. 26 p.
FILHO, M.P.B. Calagem. Embrapa Cerrado, Brasília. 2001. Disponível em: https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/CONTAG01_87_1311200215104.html
LOPES, A.S.; SILVA, M.C.; GUILHERME, R.L.G. Boletim técnico nº1 – Acidez do solo e calagem. Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), São Paulo, 3ª ed., 1990. 22 p.
NATALE, William et al. Resposta da caramboleira à calagem. Rev. Bras. Frutic. [online]., vol.30, n.4, p.1136-1145, 2008.]
RAIJ, B. van. Fertilidade do solo e adubação. São Paulo: Agronômica Ceres, 1991. 343 p.
SANTIAGO, A.D.; ROSSETTO, R. Calagem na cana-de-açúcar. Disponível em: https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_34_711200516717.html
VELOSO, C.A.C.; BORGES, A.L.; MUNIZ, A.S.; VEIGAS, I.A.J.M. Efeito de diferentes materiais no pH do solo. Sci. agric., Piracicaba, v. 49, p. 123-128, 1992.
Autores
- Agr. Msc. Aline Tramontini dos Santos
- Agr. Msc. Carolina Custódio Pinto
- Agr. Msc. Thiago Stella de Freitas