A agricultura e meio ambiente caminham juntos. Essa é a máxima da qual não podemos nos desvencilhar. Com o crescimento populacional e o aumento da demanda por alimento e outros recursos naturais, a agricultura sustentável torna-se um tema que merece destaque na política ambiental (KAMIYAMA, 2014).
Para FAO, citado por Ehlers, 1999, “a agricultura sustentável é o manejo e a conservação da base de recursos naturais e a orientação tecnológica e institucional, de maneira a assegurar a obtenção e a satisfação contínua das necessidades humanas para as gerações presentes e futuras. Tal desenvolvimento sustentável (agricultura, exploração florestal e pesca) resulta na conservação do solo, da água e dos recursos genéticos animais e vegetais, além de não degradar o ambiente, ser tecnicamente apropriado, economicamente viável e socialmente aceitável.”
O Brasil é uma fonte estratégica de alimentos, ocupando lugar central na oferta de produtos agropecuários e foi um dos principais países responsáveis pela garantia da segurança alimentar planetária. Esta posição que o país vem conquistando confirma uma das expressões, cunhadas na década de 1970, de que “o Brasil é o celeiro do mundo”. Constantes quebras de recordes de produção de importantes culturas como soja, milho, algodão, café, laranja e cana de açúcar se dão sobre um solo pobre em nutrientes, como é o caso do Cerrado, principal região produtora dos gêneros agropecuários do país. Esta “façanha” só é possível com a utilização dos fertilizantes para correção dos nutrientes essenciais ao desenvolvimento da planta (STRADA, 2013).
No entanto, se faz necessário alternativas para o processo produtivo agrícola adotado. É preciso a utilização de modelos mais sustentáveis, como a adoção de uma agricultura de baixo carbono; uso de tecnologias de precisão; recuperação de pastagem degradada; implementação do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta; fixação biológica de nitrogênio; entre outros.
O déficit estrutural na demanda por macronutrientes no mercado brasileiro é decorrente da potência e competitividade do agronegócio e das restrições estruturais da indústria de produção de fertilizantes, uma vez que o país carece de insumos dessa indústria. Entretanto, a abundante produção de resíduos por alguns setores do agronegócio possibilita que os nutrientes presentes nesses rejeitos possam ser reaproveitados, reduzindo, assim, a destinação ambientalmente incorreta e atribuindo maior contorno de economia circular ao agronegócio brasileiro (CRUZ, PEREIRA, FIGUEIREDO, 2017).
A adubação mineral proporciona a produtividade imediata das culturas, no entanto sucessivas aplicações de fertilizante são necessárias ao manejo, devido ao rápido esgotamento de nutrientes disponíveis para as plantas. Esses fertilizantes provocam gastos excessivos, desgastes no solo e limitações do potencial produtivo nas culturas (RABELO, 2015). Além disso, ao longo do tempo, dependendo da dose aplicada, podem ocasionar acidificação do solo, principalmente no caso do nitrogênio (FRANCIOLI et al., 2016; REZENDE, 2022). Durante os últimos anos, o uso de adubos com tecnologia de liberação lenta ou controlada aumentou significativamente, como os organominerais e os polimerizados, que apresentam alta eficiência em relação aos fertilizantes convencionais (SILVA, 2017).
Para Cruz, Pereira, Figueiredo (2017) fertilizantes são substâncias minerais ou não minerais, de origem natural ou sintética, que são capazes de dar às plantas um ou mais nutrientes essenciais a seu desenvolvimento. Os elementos não minerais são carbono, hidrogênio e oxigênio. Entre os minerais, os mais importantes são divididos em três grupos segundo o grau de importância e a quantidade necessária às plantas:
- macronutrientes primários – assim denominados por serem absorvidos em grandes quantidades pelas plantas, como: nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), normalmente fornecidos às plantas na forma de misturas ou formulações, pertencentes ao grupo NPK;
- macronutrientes secundários – que são absorvidos em menores quantidades pelas plantas, como: cálcio (Ca), magnésio (Mg), sódio (Na) e enxofre (S);
- micronutrientes – assim chamados por serem administrados em quantidades menores do que as dos macronutrientes, como: boro (B), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), zinco (Zn), níquel (Ni) – se presentes no solo em quantidade excessiva à demanda das plantas, podem ser tóxicos aos vegetais.
O nitrogênio é utilizado pelos vegetais para a metabolização de proteínas fundamentais para o crescimento e desenvolvimento da planta. O fósforo é utilizado na geração de energia pela planta, sendo necessário ao processo de fotossíntese e de reprodução, bem como ao processo de crescimento e sustentação dos vegetais e animais (LOPES, 1998). O potássio é o responsável por resistência a doenças, manuseio e durabilidade das plantas. O enxofre, apesar de ser um macronutriente secundário, é essencial na solubilização do fósforo e, consequentemente, em sua absorção pelos vegetais (LOBO, 2008).
Uma proposta para reduzir o potencial de perda e o impacto ambiental são os fertilizantes de eficiência aumentada, os quais liberam os nutrientes mais lentamente que os fertilizantes comuns “atrasando a solubilização dos nutrientes, em comparação com as fontes tradicionais”. Esses novos insumos podem aumentar a eficácia do uso dos nutrientes, reduzindo perdas por lixiviação (N e K), volatilização (N), desnitrificação (N) e fixação (P)”. Isso faz com que haja um aumento da absorção pelas plantas por meio gradual e de acordo com a demanda da cultura (EMBRAPA, 2022).
Segundo a legislação brasileira, os fertilizantes organominerais são produtos que combinam um componente mineral com um componente de material orgânico. Para serem classificados como organominerais, esses fertilizantes precisam apresentar concentrações mínimas de nutrientes (primários, secundários ou micronutrientes) e carbono orgânico (CRUZ, PEREIRA, FIGUEIREDO, 2017).
Até 2000, o principal componente orgânico utilizado na formulação de fertilizantes orgânicos e organominerais era a turfa, de origem sedimentar. Novos conhecimentos e tecnologias vêm incorporando diferentes fontes de biomassa, tais como os resíduos da agroindústria. Essa mudança tem conduzido à tendência de substituição de fontes não renováveis por fontes renováveis no setor de fertilizantes, atendendo inclusive à Política Nacional de Resíduos Sólidos, que determina a correta destinação e tratamento dos resíduos gerados ao longo das cadeias produtivas (CRUZ, PEREIRA, FIGUEIREDO, 2017).
Cruz, Pereira, Figueiredo (2017) explicam que a parcela orgânica desses fertilizantes traz vantagens quando aplicada no solo, gerando diversos benefícios, por meio da decomposição dos resíduos orgânicos, dentre os quais se destacam:
- Na fertilidade do solo (atributos químicos e físico-químicos do solo):
– Depois da decomposição e da mineralização, a matéria orgânica torna-se fonte de macro e micronutrientes para as culturas.
– Muitos nutrientes presentes no solo estão na forma de cátions. A matéria orgânica aumenta a capacidade de troca de cátions do solo, ou seja, proporciona maior capacidade de adsorver (reter) os cátions presentes no solo que são posteriormente disponibilizados para as plantas.
– Aumento da superfície específica do solo: quanto maior a superfície específica, maior a capacidade de retenção de nutrientes.
– Complexação de substâncias tóxicas: a matéria orgânica em estágios avançados de decomposição tem a capacidade de controlar a toxidez causada por certos elementos presentes no solo em teores acima do normal e, por isso, tóxicos.
- No condicionamento físico do solo:
– Melhoria da estrutura do solo: tem a capacidade de agregar as partículas do solo, formando “grumos”. Esse efeito agregador desencadeia benefícios nas outras características físicas do solo.
– Densidade do solo: redução da densidade aparente do solo, tornando-o mais “leve” e solto.
– Porosidade do solo: melhoria da circulação de ar e água nos poros (espaços vazios entre as partículas) do solo.
– Capacidade de retenção e infiltração de água: aumento da capacidade de armazenamento da água do solo.
- Biota do solo:
– Atua como uma fonte de alimento para microrganismos decompositores, que a utilizam como substrato e são responsáveis pela decomposição e mineralização da matéria orgânica no solo.
A matéria orgânica, quando presente no solo, auxilia na manutenção de sua estrutura física, na retenção de nutrientes, na infiltração e no armazenamento da água. Da mesma forma, sabe-se que a presença de matéria orgânica em níveis adequados interfere positivamente nas propriedades químicas, físicas e biológicas dos solos. Especialmente nos solos tropicais, a preservação da matéria orgânica tem efeito protetor contra a intensidade das chuvas e dos ventos. Ademais, observou-se que a presença de matéria orgânica tem consequências sobre o aumento da atividade biológica e do fluxo energético de biotransformação dos elementos orgânicos e minerais em nutrientes disponíveis para as plantas (CRUZ, PEREIRA, FIGUEIREDO, 2017).
A ausência de matéria orgânica está associada a um aumento das perdas de macronutrientes presentes no solo. O aproveitamento de nutrientes (Tabela 1) disponíveis é superior no emprego dos fertilizantes organominerais quando comparados aos fertilizantes convencionais.
Tabela 1- Mostra a relação do aproveitamento do NPK pelo uso do adubo organomineral comparativamente ao fertilizante convencional em condições de perdas, ou seja, aproveitamento de nutrientes por tipo de fertilizantes (%).
O segmento de fertilizantes organominerais representa oportunidades para inovação no setor de fertilizantes. A origem desses fertilizantes remonta a misturas artesanais adotadas tradicionalmente nas práticas agrícolas. Originam-se da adição de resíduos orgânicos a quantidades de NPK. Essas misturas foram sendo aperfeiçoadas com a introdução de maior quantidade de nutrientes minerais, de acordo com as respostas das culturas (CRUZ, PEREIRA, FIGUEIREDO, 2017).
Conforme Laforet (2013), existe uma correlação entre a alta produtividade, pelo manejo intensivo dos solos, com perdas de carbono orgânico e biomassa microbiana dos solos, o que leva a possível queda de produtividade do solo. Entretanto, os teores de carbono orgânico podem ser recompostos pela reintrodução de matéria orgânica e pela adoção de técnicas conservacionistas de manejo. Condicionadores de solos, bioestimulantes e uma nova geração de fertilizantes orgânicos e organominerais são exemplos de produtos que aliam a nutrição da planta à preservação dos ecossistemas dos solos. Esses produtos permitem economia com gastos de insumos químicos, e promovem o reaproveitamento de subprodutos das agroindústrias e de outras fontes de biomassa.
Em vista disso, ao se trabalhar com agricultura podemos sair de paradigmas onde se tem a agricultura como um vilão do meio ambiente e podemos integrar toda essa cadeia produtiva mostrando que o homem e o campo são aliados. Onde, o homem maneja o solo de forma a manter a saúde física, química e biológica e assim, o meio ambiente retorna ao homem produtividade longeva, levando a produção de alimentos a presentes e futuras gerações. O que faz a agricultura sustentável ser vista não como uma forma de frear a produção, mas sim, dar qualidade ao sistema de produção agrícola.
Dessa forma, como que os produtos da ILSA podem contribuir com a agricultura sustentável?
Vamos falar um pouquinho das nossas matrizes:
Primeiramente falaremos da matriz AZOGEL, a qual é obtida através de um processo industrial inovador e sustentável onde não ocorre a adição de nenhum tipo de substância química chamado de hidrólise térmica. Tal processo, conhecido como Fully Controled Hydrolisys (FCH), permite a obtenção de um produto único e de alta homogeneidade (sem variações na matéria-prima e nas garantias), com elevado teor de carbono e nitrogênio orgânicos, ambos altamente disponíveis para os microrganismos presentes no solo e na rizosfera. AZOGEL apresenta liberação gradual de nitrogênio e permite nutrição adequada durante todo o ciclo produtivo das plantas, evitando perdas por volatilização e lixiviação geralmente presentes em outros fertilizantes nitrogenados. Desse modo, é possível reduzir o número de aplicações e incrementar a produtividade agrícola respeitando o meio ambiente. Portanto, AZOGEL garante uma nutrição vegetal equilibrada, de acordo com as exigências nutricionais das culturas nas suas diversas fases fenológicas.
E agora falaremos da matriz GELAMIN, a partir da matriz GELAMIN são produzidos os fertilizantes líquidos e hidrossolúveis da ILSA, para aplicação foliar e/ou fertirrigação. Esta matriz é obtida a partir da hidrólise enzimática do colágeno onde este é adicionado nos reatores juntamente com o vapor d’água e enzimas seletivas que irão cortar a molécula de proteína em diferentes fragmentos. Tal processo permite a obtenção de um produto único e de alta homogeneidade, com elevado teor de proteínas, nitrogênio e carbono orgânicos, todos altamente disponíveis para as plantas.
A partir dessas duas matrizes são formulados os fertilizantes ILSA, que são enriquecidos com macro e micronutrientes, disponibilizando as plantas nutrientes de maneira que as raízes e folhas consigam absorver de forma eficiente estimulando seu desenvolvimento. Todos os fertilizantes ILSA são obtidos a partir de combinações de nossas matrizes orgânicas com fontes de minerais de nutrientes. A presença das matrizes permite que os nutrientes sejam fornecidos para as plantas de uma forma mais gradual e eficiente o que contribui para uma agricultura mais assertiva, sustentável e com aplicação de menores volumes de fertilizantes.
Referências bibliográficas
CRUZ, André Camargo; PEREIRA, Felipe dos Santos; FIGUEIREDO, Vinicius Samu de. Fertilizantes organominerais de resíduos do agronegócio: avaliação do potencial econômico brasileiro. 2017.
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária. Novos fertilizantes e insumos. 2022. Disponível em https://www.embrapa.br/en/caravana-embrapa-fertbrasil.
FRANCIOLI, Davide et al. Mineral vs. organic amendments: microbial community structure, activity and abundance of agriculturally relevant microbes are driven by long-term fertilization strategies. Frontiers in microbiology, v. 7, p. 1446, 2016.
KAMIYAMA, Araci. Secretaria do Meio Ambiente / Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais. Agricultura sustentável São Paulo (Estado): SMA, 2011. (Cadernos de Educação Ambiental, 13) Reimpressão, 2014.
LAFORET, M. R. A transferência de tecnologia de processos de produção de fertilizantes organominerais: pesquisa-ação sobre uma parceria público-privada. 2013. Tese de Doutorado. Dissertação (Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual, Inovação e Desenvolvimento) Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), Rio de Janeiro.
LOBO, V. O mercado e o desafio da indústria de fertilizantes no Brasil – Bunge fertilizantes. 2008.
LOPES, A. S. Manual internacional de fertilidade do solo. Tradução e adaptação de Alfredo Scheid Lopes. 2 ed., rev. e ampl. Piracicaba: Potafos, 1998.
RABELO, K. C. C. Fertilizantes organomineral e mineral: aspectos fitotécnicos na cultura do tomate industrial. 2015. 70 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) -Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015.
REZENDE, Camila Isabel Pereira. Imagens multiespectrais para discriminar fontes de adubo no cafeeiro. 2022.
STRADA, Juliane. Fertilizantes: calcanhar de Aquíles na sustentabilidade?. 2023.
SILVA, E. C. C. Influência de fontes de fertilizantes organominerais e de liberação lenta na qualidade do café. 2017. 25 f. TCC (Graduação) –Curso de Agronomia, Centro Universitário do Cerrado Patrocínio, Patrocínio, 2017.
Autores
- Eng. Agr. Dra. Angélica Schmitz Heinzen
- Eng. Agr. Msc. Carolina Custódio Pinto
- Eng. Agr. Msc. Thiago Stella de Freitas