A Importância da análise de solo – Calagem do solo
O solo, de acordo com Assmann e Soares (2016), deve ser considerado um organismo vivo único, sendo a interface de transferência de nutrientes entre os cultivos agrícolas. A análise de solo é uma importante ferramenta que permite conhecer a capacidade do solo de suprir nutrientes às plantas, antes mesmo do plantio. De acordo com Cardoso et al. (2009), é a forma mais simples, econômica e eficiente de diagnose da fertilidade dos solos, constituindo-se como base imprescindível para a recomendação de quantidades adequadas de corretivos e fertilizantes para aumentar a produtividade das culturas e, como consequência, a produção e a lucratividade das lavouras.
Outros aspectos favoráveis à utilização da análise do solo como base para o plantio são seu baixo custo e rapidez na obtenção de resultados, planejamento adequado de compra e uso de insumos, evita desequilíbrios nutricionais e é capaz de minimizar os danos causados ao meio ambiente, especialmente no quesito contaminação de águas por excesso de fertilizantes. Portanto, com a análise em mãos, é possível determinar as quantidades corretas de adubos e calcário a serem adicionadas ao solo.
Procedimentos de amostragem do solo
A amostragem do solo é considerada a etapa mais crítica de todo o processo de análise do solo, haja visto que uma pequena porção de terra representará alguns hectares, e não há meios para se corrigir possíveis erros cometidos durante a amostragem (FURTINI NETO et al., 2001). Cardoso et al. (2009) cita que, para que os resultados da análise de solos realmente representem de forma confiável a gleba amostrada e possam servir de base para a recomendação de uma calagem e adubação adequadas, a amostragem da área deve ser realizada corretamente. Os cuidados com a amostragem devem merecer atenção especial, portanto, é fundamental que a pessoa encarregada de realizar a coleta das amostras no campo tenha pleno conhecimento dos procedimentos necessários para uma amostragem adequada e representativa (CARDOSO et al., 2009).
De acordo com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a propriedade deve ser dividida em glebas homogêneas e nunca com áreas superiores a 20 hectares, para serem analisadas separadamente. Para que a média da área possa ser feita corretamente, o ideal é percorrer a gleba em ziguezague, coletando 20 amostras por gleba. Evite pontos próximos a cupins, formigueiros, casas, estradas, currais, estrume de animais, depósitos de adubo, calcário ou manchas de solo. É importante ressaltar também que todos os materiais utilizados na coleta devem estar limpos e, principalmente, livres de qualquer resíduo de calcário ou fertilizantes.
Qual a finalidade da calagem do solo?
A reação do solo é o primeiro fator que deve ser levado em conta quando se pretende fazer algum cultivo, isso porque, se ela não for favorável, medidas corretivas deverão ser tomadas antes do plantio e do preparo do solo (adubação) (SOARES et al.). Em sua maioria, os solos brasileiros são considerados ácidos. Quando não corrigida, especialmente em solos arenosos, a acidez pode se tornar um problema praticamente irreversível. Esta acidez se deve, basicamente, à presença de dois componentes: os íons H+ e Al+3, e tem origem pela intensa lavagem e lixiviação dos nutrientes do solo, pela retirada dos nutrientes catiônicos pela cultura sem a devida reposição e, também, pela utilização de fertilizantes de caráter ácido. Quando a acidez é alta, a medida mais aconselhável para sua correção é a calagem.
A calagem do solo é a técnica recomendada para reduzir esta acidez, onde aplica-se calcário (CaCO3) – uma rocha de baixa solubilidade, com o objetivo de corrigir o pH do solo, elevar os teores de cálcio e magnésio, neutralizar o alumínio e preparar o ambiente para que as raízes tenham o crescimento que proporcione o melhor desenvolvimento das culturas. Além dos benefícios citados, Santiago e Rossetto também destacam o aumento da disponibilidade de fósforo, já que diminui os sítios de fixação deste elemento no solo; redução da toxicidade de alumínio e manganês através da formação de hidróxidos, que não são absorvidos; aumento da mineralização da matéria orgânica e, consequentemente, maior disponibilização de nutrientes. A calagem também favorece a nodulação e consequente fixação biológica de nitrogênio. Nas propriedades físicas do solo, a calagem aumenta a agregação, pois o cálcio é um cátion floculante e, com isso, diminui a compactação. Portanto, a calagem é fundamental para melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, representando um dos investimentos de melhor custo/benefício para os produtores rurais.
Critérios para a recomendação de calagem do solo
Segundo Lopes et al. (1991), dentre os vários métodos para recomendação de calagem, no Brasil são utilizados principalmente três, além de algumas variações locais. Esses métodos são: 1. Neutralização do alumínio; 2. Solução tampão SMP; e 3. Saturação por bases, que serão brevemente descritos a seguir.
- Neutralização do alumínio:
Caracteriza-se por ser um dos métodos mais simples de recomendação de calagem, visto que o alumínio trocável é um dos principais fatores relacionados à acidez do solo. Vale ressaltar que esta técnica é considerada pouco eficiente em solos argilosos e com muita matéria orgânica, além de que a dose de calcário calculada por esse método é insuficiente para elevar o pH do solo de modo sensível, geralmente só até pH 5,7, ou um pouco menos.
- Solução tampão SMP:
De acordo com Lopes et al. (1991), este método consiste em agitar uma quantidade de solo com um volume da solução tampão SMP, sendo muito utilizado nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O Manual de Adubação e de Calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina cita que a quantidade de corretivo a ser aplicado depende do pH em água que deveria ser atingido (valor de referência). Essa quantidade aumenta com a acidez potencial do solo expressa pelo índice SMP. A acidez potencial do solo diminui à medida que o índice SMP aumenta. Ainda, o Manual sugere que, em solos pouco tamponados, o índice SMP pode subestimar a necessidade de calcário. Nesses casos, esta pode ser calculada pelos teores de matéria orgânica e de alumínio trocável do solo, dependendo do pH a atingir.
- Saturação por bases:
A indicação da quantidade de calcário a utilizar pode ser feita também pela saturação da capacidade de troca de cátions (CTCpH 7,0) por bases. É geralmente muito utilizado nos estados do Paraná e São Paulo, e baseia-se na relação existente entre pH e saturação por bases, onde, no cálculo, são considerados parâmetros referentes ao solo, ao corretivo e à cultura específica, o que o torna um método mais flexível e com maior embasamento teórico.
O solo é considerado o alicerce da vida terrestre no planeta bem como um recurso natural não renovável, e entender seu funcionamento é fundamental. Por isso, o manejo adequado e a preservação do solo através de atividades sustentáveis tornam-se tarefas essenciais, já que é limitado, e a exploração desenfreada pode acarretar muitos problemas futuros. Por este motivo, a calagem, que visa eliminar todos os possíveis efeitos nocivos da acidez do solo, ajuda a potencializar o efeito dos fertilizantes ILSA.
Referências bibliográficas
ASSMANN, T.S.; SOARES, A.B. Migrando da adubação de culturas para a adubação de sistemas por meio da Integração Lavoura Pecuária. Informativo Integrar, Triunfo, n.15, 2016.
CARDOSO, E.L.; FERNANDES, A.H.B.M.; FERNANDES, F.A. Análise de solos: finalidade e procedimentos de amostragem. Comunicado Técnico, Embrapa, Corumbá, n. 79, 2009. 5p.
Embrapa Clima Temperado – Análise de Solo: Procedimentos para a coleta de amostras. Laboratório de Fertilidade do Solo, Pelotas.
FURTINI NETO, A. E.; VALE, F. R.; RESENDE, A. V.; GUILHERME, L. R. G.; GUEDES, G.A.A. Fertilidade do solo. UFLA, 2001. 252 p. (Trabalho de conclusão de curso)
Instituto Agronômico de Campinas (IAC): Como retirar amostra de solo. Disponível em: http://www.iac.sp.gov.br/produtoseservicos/analisedosolo/retiraramostrasolo.php
LOPES, A.S.; SILVA, M.C.; GUILHERME, L.R.G. Boletim Técnico: Acidez do solo e calagem. Associação Nacional para Difusão de Adubos, São Paulo, n. 1, 1991. 22 p.
Manual de adubação e de calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. Comissão de Química e Fertilidade do Solo. – 10. ed. – Porto Alegre, 2004. 400 p.
SANTIAGO, A.D.; ROSSETTO, R. Calagem: Árvore do Conhecimento – Cana de Açúcar. Ageitec, Embrapa. Disponível em: https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_34_711200516717.html
SOARES, A.H.V.; SILVA, C.A.; ZAMBALDE, A.L. Um Sistema Especialista para o Cálculo da Necessidade de Calagem e Recomendação de Corretivo. UFLA, Lavras.
Autores
- Eng. Agr. Msc. Aline Tramontini dos Santos
- Eng. Agr. Msc. Carolina Custódio Pinto
- Eng. Agr. Msc. Thiago Stella de Freitas