A nutrição mineral se mostra como um dos principais obstáculos relacionados ao manejo que impossibilita o ganho de elevada produtividade na cafeicultura, pois esta cultura possui características de alta exigência nutricional em função das elevadas quantidades necessárias de nutrientes para o crescimento vegetativo da planta e formação dos frutos (LAVIOLA et al. 2007; PARTELLI et al. 2014).
De acordo com Barbosa et al. (2011), a produtividade de grãos de café sofre interferência do solo em que é produzido, uma vez que as características físicas, como o relevo, a presença de cascalhos no solo, a profundidade, a textura, além da capacidade de reter água e nutrientes, influenciam a lavoura. Além disso, tem-se interferência pela interação do genótipo e do ambiente, sendo o número de plantas por hectare um dos fatores de maior relevância na expressão fenotípica das cultivares e na produtividade do café arábica (CUSTÓDIO et al., 2023).
Hoje vamos falar de dois nutrientes importantes para a cultura cafeeira, os quais possuem baixa mobilidade dentro da planta, o macronutriente secundário cálcio e o micronutriente o boro.
O boro e o cálcio, se caracterizam por ter baixa mobilidade no floema e se redistribuírem pouco na planta (Figura 1), portanto, a deficiência nutricional de ambos apresenta-se nos órgãos mais jovens (MALAVOLTA, 1980). O boro é importante na translocação de açúcares e na formação da parede celular; o cálcio atua na formação do pectato de cálcio, presente na lamela média da parede celular (DA SILVA et al., 2006). O suprimento adequado de boro e cálcio para as plantas é essencial para o desenvolvimento normal de frutos e sementes, atuando na germinação do grão de pólen e no crescimento do tubo polínico (WOODS, 1994; MARSCHNER, 1995). Além disso, a deficiência de boro acarreta diminuição do teor de cálcio na folha, afetando a sua absorção e translocação na planta (YAMAUCHI et al., 1986; PENALOSA et al., 1987; FAGERIA, 2001).
O Ca é o segundo macronutriente mais acumulado pelo cafeeiro, ficando atrás apenas do N. Nas plantas, é absorvido como Ca2+ e apresenta pouca mobilidade no floema. Sua deficiência reduz o desenvolvimento do sistema radicular, além de influenciar a estrutura e a resistência da parede celular das plantas (COVRE, PARTELLI, 2013).
O cálcio é responsável pela estabilidade estrutural e fisiológica dos tecidos das plantas. Regula os processos de permeabilidade das células e tecidos e possui função de ativador enzimático (PRADO, 2020). Cumpre função importante também na manutenção da integridade da parede celular, que apresenta enorme importância na prevenção como barreira física de infecção por pragas e doenças (BARCELLOS, 2021).
Além de compor estruturalmente compostos como pectato, carbonato, oxalato, fosfato, calmodulinas e anexinas; atua na regulação enzimática de ATPase, alfa amilase, fosfolipase, nucleases e poligalacturonase, bem como, no funcionamento de membranas, no transporte de auxinas, abscisão e senescência, entre outros processos metabólicos (LI et al. 2009).
No café o boro interfere no desenvolvimento e no processo de fecundação das flores evitando abortamento, com participação na divisão e no crescimento celular (VERDIN FILHO et al., 2013). Segundo Guimarães e Mendes (1997), a deficiência de B pode causar a morte de gemas terminais, fazendo com que ocorra superbrotação em forma de “leque”, com folhas deformadas, pequenas, estreitas, retorcidas e com bordos irregulares. Como o boro é importante na formação do tubo polínico durante a fecundação, sua deficiência causa abortamento de flores, e consequentemente, redução na produtividade do cafeeiro.
O micronutriente boro (B) é um fator limitante para as áreas agrícolas e sua correção nos solos brasileiros é de extrema importância para o aumento da produtividade (SANTINI et al., 2015).
A utilização do B, especialmente para grãos e café, tem importância devido a sua dinâmica no solo. O conhecimento adequado sobre o manejo desse nutriente reflete positivamente na produtividade e qualidade dos produtos colhidos (FLORES et al., 2018; SAKO et al., 2016).
Para a cultura do café, o fornecimento de B pode ser realizado no momento da aplicação de fungicidas/inseticidas via solo (outubro–novembro), escolhendo fontes de alta solubilidade como ácido bórico ou octaborato de sódio (MATIELLO; FACUNDES, 2016). Outra forma de fornecer o B para o café é utilizando adubos formulados que contenha boro em sua composição, assim em cada adubação se fornece parte da dose de boro (TOMICIOLI et al., 2021).
Para o cafeeiro em produção, pode-se optar pela adubação na projeção da copa utilizando fontes de B ou em mistura com os adubos formulados. Para solos arenosos ou textura média, pode-se utilizar fontes de solubilidade mais lenta, aplicadas na projeção da copa, visando reduzir os processos de lixiviação (TOMICIOLI et al., 2021). Para o cafeeiro no momento do plantio ou formação, utilizar B quando o teor for baixo, aplicando na cova ou sulco de plantio 0,6g planta-1de B (GUIMARÃES et al., 1999). Nessa situação, utilizar fontes de baixa solubilidade visando disponibilizar o nutriente de forma lenta para as plantas, como por exemplo a ulexita.
A adubação foliar visa o fornecimento de nutrientes às plantas de forma mais prontamente absorvível, podendo auxiliar na correção de deficiências nutricionais, servindo como uma complementação da adubação via solo (VERDIN FILHO et al., 2013). A adubação foliar é uma valiosa alternativa que deve ser empregada em situações específicas ou como forma de complemento para a adubação via solo. Segundo Taiz & Zeiger (2009), a maioria das plantas conseguem absorver nutrientes minerais aplicados nas folhas.
De acordo com Faquin (2005), existem quatro condições nas quais a adubação foliar deve ser realizada:
Adubação foliar corretiva: tem como objetivo corrigir deficiências nutricionais que venham a ocorrer durante o ciclo da cultura tendo em vista respostas rápidas à aplicação do fertilizante foliar;
Adubação foliar preventiva: deve ser realizada quando um nutriente não está na concentração considerada ideal e sua aplicação via solo não é eficiente.
Adubação foliar complementar: nesse caso, a adubação foliar serve de complemento para adubação via solo, ou seja, parte do(s) nutriente(s) é aplicada via solo e o restante via adubação foliar.
Adubação foliar suplementar: é um caso específico em que a adubação foliar é realizada como um investimento a mais, como por exemplo, em situações em que se objetiva uma alta produtividade do cafeeiro.
Para lavouras adultas é comum efetuar uma aplicação de cálcio e boro antes da florada, com objetivo de fortalecer e aumentar o índice de pegamento das flores do cafeeiro.
A oferta do Ca e B via solo, impede o aparecimento da deficiência nutricional desses elementos em órgãos mais novos. Ambos apresentam forte interação com o solo, e o conteúdo de Ca diminui quando há excesso de B no solo, enquanto o baixo teor de Ca causa deficiências de B (MALAVOLTA, 1997). As interações entre B e Ca aumentam as margens de respostas dose-erro com base na recomendação de respostas dose-efetuadas em desenvolvimentos rurais, evidenciando a necessidade de pesquisas científicas (GANIE, 86 2013). A adubação destes nutrientes via foliar também é vista como uma alternativa de reduzir a interferência das interações que ocorrem no solo na absorção das plantas.
De acordo com Malavolta et al. (2002), mesmo em épocas de baixa produção, a demanda de nutrientes pelo cafeeiro permanece, pois quando a frutificação é baixa, o crescimento de ramos plagiotrópicos, a formação de folhas e ramos novos substituem o fruto como dreno de carboidratos e nutrientes. O uso dos fertilizantes deve seguir rígidos critérios, buscando a otimização de sua utilização para que se consiga a maior produtividade com os menores custos possíveis (CORRÊA et al. 2001).
FERTILIZANTES ILSA PARA SUPRIMENTO DE CÁLCIO E BORO
A adubação via solo dos nutrientes cálcio e boro é uma prática imprescindível para garantir a elevação do teto produtivo de cultivares de cafeeiro. A ILSA BRASIL possui em seu portfólio o fertilizante orgânico FERTIL Boro ®. FERTIL Boro ® possui em sua composição a matriz orgânica AZOGEL®, rica em nitrogênio e carbono orgânicos e 16 aminoácidos essenciais para o metabolismo vegetal, combinada com uma fonte mineral de boro. Como visto no texto, o nutriente boro possui baixa mobilidade no floema, desta forma, a presença dos aminoácidos provenientes da matriz AZOGEL® potencializa a absorção deste nutriente pela planta, bem como a sua redistribuição, pois os aminoácidos possuem função carreadora de nutrientes.
FERTIL Boro ® além de fornecer boro de forma mais eficiente, fornece nitrogênio e carbono orgânicos que potencializam a atividade biológica do solo, contribuindo para a ciclagem de nutrientes e o incremento de substâncias orgânicas presentes na matéria orgânica do solo. FERTIL Boro ® de aplicação via solo, possui formulação granulada e deve ser aplicado na saia da planta de café.
Além do fornecimento via solo a ILSA BRASIL possui em seu portfólio os fertilizantes ILSAMIN Boro® e ILSAMIN CaMg ® para fornecimento de boro e cálcio via foliar, afim de corrigir possíveis carências destes nutrientes e complementar o fornecimento via solo, de forma rápida, pontual e eficiente. Os fertilizantes citados, são obtidos pela combinação da matriz GELAMIN® com fontes minerais de nutrientes. Os aminoácidos presentes em GELAMIN® conferem maior velocidade de absorção destes nutrientes pelas plantas.
Referências
BARBOSA, Júlio César et al. Caracterização da resistência vertical e horizontal do cafeeiro a ferrugem (Hemileia vastatrix Berk. & Br) em acesso de Híbrido de Timor. 2005.
BARCELLOS, Ronildo. Influência da localização da fertirrigação nos teores de macronutrientes do cafeeiro. INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, 2021.
COVRE, A. M.; PARTELLI, F. L. Concentração e acúmulo de cálcio em cafeeiro conilon irrigado e não irrigado, no estado da Bahia. 2013.
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Autores
Eng. Agr. Dra. Angélica Schmitz Heinzen
Eng. Agr. Msc. Carolina Custódio Pinto
Eng. Agr. Msc. Thiago Stella de Freitas