A agricultura é uma atividade milenar, que possui como principal objetivo o abastecimento de alimentos à população e, por isso, constitui-se da mais importante atividade humana. Desde a Pré-história, a humanidade utiliza os frutos da produção agrícola para a subsistência e, mais tarde, para a produção de excedentes. Porém, a maneira como os agricultores utilizam a terra mudou muito, especialmente nas últimas décadas, com o aumento da população mundial. Os resultados dessa mudança não foram apenas positivos, já que, no que diz respeito aos recursos naturais e ao meio ambiente, existe uma grande preocupação: como explorar os recursos naturais de forma consciente, de modo que as gerações futuras possam utilizar estes mesmos recursos?
Como já mencionado no texto “O que é sustentabilidade na agricultura? ” (disponível aqui: https://ilsabrasil.com.br/o-que-e-sustentabilidade-na-agricultura/) a ideia de sustentabilidade agrícola gira em torno de três elementos principais: redução de impactos ambientais, impacto social e economia. Partindo disso, para que um sistema agrícola seja sustentável, deve-se incentivar a conservação do meio ambiente de forma que não se coloque em risco os outros dois elementos. Toda e qualquer atividade agrícola para ser considerada sustentável deve permitir o uso racional e consciente da água, do solo, promover a redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE) e manutenção da vida no solo.
De acordo com Possantti (2019), a água é um recurso que pode ser considerado tanto renovável quanto não renovável, tudo depende do consumo e do meio e local de extração. Entretanto, ainda segundo este autor, em um mundo finito, todos os recursos naturais são limitados. Recursos naturais não renováveis são limitados pelo tamanho do estoque e os renováveis pela capacidade e rapidez de regeneração.
Com o avanço das mudanças climáticas promovidas pelas ações humanas, os regimes pluviais também vêm sofrendo transformações. A ocorrência de chuva ácida com maior frequência é uma delas. Este tipo de chuva ocorre em função da mistura entre o vapor d’água e os gases poluentes – em especial óxidos de enxofre e nitrogênio (SO3 e NO2), liberados, principalmente, pela intensa industrialização. Quando precipitam e caem no solo, ocasionam a acidificação do meio, além de serem tóxicos não metabolizáveis pelas plantas.
Além da chuva ácida, a intensificação dos cultivos agrícolas com uso indiscriminado de agrotóxicos pode, de acordo com Lopes e Albuquerque (2018), contaminar reservatórios de água, rios, recursos hídricos e bacias fluviais, podendo interferir nos organismos vivos aquáticos. Portanto, caso não haja uso consciente destes compostos, gerações futuras podem ser afetadas pela redução da disponibilidade de água potável e/ou própria para a agricultura. Ainda segundo os autores citados anteriormente, algumas substâncias já proibidas há décadas no Brasil, como é o caso do hexaclorociclohexano (HCH), ainda estão sendo detectadas em amostras de águas, poços e mananciais.
Outro fator importante a ser considerado aqui é o impacto que algumas dessas substâncias pode causar em insetos polinizadores, como abelhas, aumentando a mortalidade desses seres tão importantes para a agricultura, caso não haja uso consciente desses compostos. No que diz respeito aos organismos do solo, muitos agrotóxicos, se usados corretamente, são considerados não nocivos, mas o uso de dosagens acima do permitido – e dependendo das características físicas, químicas e biológicas do solo no qual foi depositado – pode influenciar de forma direta ou indireta na população da macro e microfauna, como é o caso do herbicida glifosato (Moraes & Rossi, 2010; Zilli et al., 2008; citados por Belchior et al., 2014). Isto pode comprometer a fertilidade do solo de forma irreversível, uma vez que estes organismos são responsáveis pela ciclagem dos nutrientes e pela fixação biológica de nitrogênio.
O solo é considerado o alicerce da vida no planeta e também um recurso natural não renovável. O manejo inadequado do solo, como a retirada da cobertura verde ou da palhada (pós-colheita), pode contribuir para a erosão das camadas superficiais, ocasionando perda de fertilidade. A utilização intensa de fertilizantes minerais – a exemplo da ureia, pode causar também a salinização dos solos. De acordo com Melo e Voltolini (2019), este processo pode afetar toda a fauna e flora do solo, reduzindo a biodiversidade nos ecossistemas terrestres e aquáticos e a eficiência na ciclagem de nutrientes, contribuindo também para os processos de erosão causados por chuvas e ventos.
Além disso, a exploração intensiva sem os devidos cuidados pode levar o solo a um caso ainda mais extremo: a desertificação. Este processo ocorre quando há a completa degradação química e física do solo, que perde suas características produtivas e torna-se infértil e impróprio para a agricultura. De acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, as áreas mais degradadas, de forma geral, apresentam, em boa parte dos seus solos, baixos teores de fósforo. O nitrogênio também é muito escasso, devido aos baixos teores de matéria orgânica. Com a supressão vegetal e a baixa capacidade de produção de massa verde, quando da ocorrência das chuvas, o que resta de matéria orgânica nos solos desnudos são rapidamente mineralizados, agravando mais ainda a deficiência de nitrogênio, água e alimentos. O processo de desertificação, em muitos casos, é considerado irreversível – ou, ao menos, de difícil solução.
Em todo os âmbitos, a ausência de práticas conservacionistas que promovam a sustentabilidade nos cultivos e uso consciente dos recursos naturais pode resultar em alterações irreversíveis nos sistemas agrícolas, de modo que a produção de alimentos e outros produtos provenientes da agricultura se tornem cada vez mais escassos ou então mais caros. Sendo assim, toda e qualquer tomada de decisão deve ser feita pensando em como explorar estes recursos de forma a causar o mínimo impacto ambiental possível, mas garantindo o lado econômico e social. Alternativas para isso existem e estão cada vez mais acessíveis.
Um exemplo é a substituição de fertilizantes minerais por organominerais da ILSA, já que todo o processo de produção é sustentável, além de utilizarem subprodutos de outros processos industriais que seriam descartados no ambiente para a fabricação de seus produtos. Além disso, esses fertilizantes estimulam o pleno desenvolvimento de microrganismos do solo, uma vez que possuem baixa relação C/N. Também apresentam a liberação gradual e uniforme dos nutrientes, que serão disponibilizados ao longo da safra, evitando, dessa forma, desperdícios de produto por lixiviação e também o número de aplicações, reduzindo o impacto ambiental.
Referências bibliográficas
BELCHIOR, D.C.V.; SARAIVA, A.S.; LÓPEZ, A.M.C.; SCHEIDT, G.N. Impactos de agrotóxicos sobre o meio ambiente e a saúde humana. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v. 34, n. 1, p. 135-151, 2014.
LOPES, C.V.A.; ALBUQUERQUE, G.S.C. Agrotóxicos e seus impactos na saúde humana e ambiental: uma revisão sistemática. Saúde em Debate [online], v. 42, n. 117, 2018.
MELO, R.F.; VOLTOLINI, T.V. Agricultura familiar dependente de chuva no semiárido. Embrapa Semiárido, Petrolina, 2019. 467 p.
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – disponível em: https://www.gov.br/mcti/pt-br/rede-mcti/insa/assuntos/noticias/entendendo-sobre-desertificacao-conceitos-caracteristicas-causas-consequencias-e-solucoes
MORAES, P.V.D.; ROSSI, P. Comportamento ambiental do glifosato. Scientia Agraria Paranaensis, v. 9, n. 3, p. 22-35, 2010.
POSSANTTI, I.B. Pensamento sistêmico e recursos hídricos: quando a água vai acabar? UFRGS, hiperlink: https://www.ufrgs.br/warp/2019/10/06/pensamento-sistemico-e-recursos-quando-agua-acabar-hidricos/. 2019.
ZILLI, J. É.; BOTELHO, G. R.; NEVES, M. P.; RUMJANEK, N. G. Efeito de glyphosate e imazaquin na comunidade bacteriana do rizoplano de soja (Glycine max (L.) Merrill) e em características microbiológicas do solo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 32, n. 2, p. 633-642, 2008.
Autores
- Eng. Agr. Msc. Aline Tramontini dos Santos
- Eng. Agr. Msc. Carolina Custódio Pinto
- Eng. Agr. Msc. Thiago Stella de Freitas