O que é sustentabilidade na agricultura?
Nos últimos 40 anos, o Brasil tem sido grande provedor de alimento, tecnologia e inovação em agropecuária tropical para muitos países (Camargo e Soares, 2021). Ainda segundo estes autores, na visão de futuro, é essencial integrar esforços de forma contínua e comprometida, em via de mão dupla com outras nações, em prol da sustentabilidade e da segurança alimentar em todo o planeta. Nos dias atuais, a grande questão em todos os setores econômicos é a produção sustentável. Mas o que significa sustentabilidade? Em linhas gerais, pode ser descrita como a capacidade de sustentação de um sistema. No que tange à agricultura, refere-se à utilização dos recursos naturais de forma consciente, com adoção de práticas agrícolas que visam a conservação do solo e dos recursos naturais, baseadas em inovações científicas para a produção de alimentos saudáveis, permitindo que as gerações futuras sejam beneficiadas pela utilização destes mesmos recursos e promovendo qualidade de vida.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) utiliza uma definição de agricultura sustentável baseado nos estudos de Greg Mclsaac, que sugere que “a agricultura sustentável é uma filosofia baseada nos objetivos humanos e no entendimento do impacto de longo prazo das nossas atividades no meio ambiente e em outras espécies. O uso dessa filosofia guia nossa aplicação da experiência prévia e dos mais recentes avanços científicos para criar sistemas agrícolas integrados, que conservem recursos e sejam equitativos. Esses sistemas não apenas reduzem a degradação ambiental como aumentam a produtividade agrícola e promovem a viabilidade econômica tanto no curto quanto no longo prazo, mantendo comunidades rurais estáveis e também a qualidade de vida”.
Na agricultura, as tecnologias e o conhecimento considerados sustentáveis são ferramentas fundamentais para a expansão da produção, uma vez que, segundo dados da FAO, fatores como maior produtividade e intensificação dos cultivos em um mesmo espaço físico contribuem para a redução de áreas desmatadas e preservação de recursos. Essas tecnologias variam de melhoramento genético das espécies até a redução no número de aplicações de insumos agrícolas – algo que, no Brasil, é extremamente bem-sucedido. Em nosso país, a produção agrícola aumentou cerca de 386 % nos últimos 40 anos, com aumento de 33 % da área ocupada, apenas. Esses números só foram possíveis graças ao intenso investimento em pesquisa, tecnologia e inovação agropecuária.
Práticas que promovem a sustentabilidade nos sistemas agrícolas
O desenvolvimento da agricultura realiza-se sob condições diferenciadas, por isso leva ao surgimento de múltiplos sistemas produtivos. Isso ocorre porque as situações produtivas são fruto de complexas interações finalizadas pelo homem dentro de um determinado espaço, ou tempo, e a partir de um conjunto de fatores, alguns dos quais manipuláveis, possibilitando a tomada de decisões (Carbonera et al., 2020).
O Agricultural Sustainability Institute (UCDAVIS) sugere que para atingir a sustentabilidade em atividades agrícolas é necessário cumprir simultaneamente três objetivos gerais, que são: ambiente saudável de produção, obtenção de lucro econômico e equidade social e econômica. Partindo desses objetivos, qualquer tomada de decisão deve ser focada na conservação e manutenção dos recursos naturais, que são, principalmente, a água, o solo, o ar e o bem-estar das comunidades rurais.
Diversas são as práticas agrícolas consideradas conservacionistas que, quando bem empregadas, podem atingir os objetivos citados anteriormente. Entre essas práticas, temos o sistema de plantio direto (SPD) e rotação de culturas. Estes dois sistemas aliados propiciam melhorias na qualidade do solo, já que reduzem erosão, aumentam a ciclagem de nutrientes e, por consequência, a atividade biológica. A palhada representa um ponto fundamental no princípio do plantio direto, e é altamente eficaz na proteção do solo, evitando impactos das gotas de chuva, ação de ventos e dos raios solares, além de favorecer a atividade microbiana.
De acordo com Fidelis et al. (2003), a rotação de culturas é considerada uma prática conservacionista e sustentável, apresentando como principais vantagens a contribuição para a melhoria e manutenção da fertilidade do solo; menor incidência de pragas, doenças e plantas daninhas na lavoura; maior diversificação de culturas na propriedade, minimizando os riscos de insucesso na atividade agrícola e contribui para a manutenção e melhoria da produtividade das culturas.
Outro ponto importante na preservação do solo é a manutenção da biodiversidade que, de acordo com Franchini et al. (2011), contribui para a estabilidade da produção devido à ciclagem de nutrientes, à fixação biológica de N, à diversificação da flora de plantas daninhas, à redução na ocorrência de doenças, ao aumento da cobertura do solo e ao trabalho realizado pelo sistema radicular das espécies, reduzindo o grau de compactação do solo em sistemas intensivos.
A escolha e cuidados na utilização dos fertilizantes também representa um fator essencial no que diz respeito à preservação de recursos naturais. Fertilizantes minerais, a exemplo da ureia, podem apresentar um impacto ambiental, desde a sua fase de fabricação, até a posterior aplicação ao solo quando utilizada inadequadamente e sem a observação de critérios técnicos, causando degradação de qualidade, poluição de rios e nascentes, aumento da emissão de gases de efeito estufa (GEE) e intensificação da resistência de pragas e doenças. Neste sentido, a utilização de fertilizantes orgânicos ou organominerais, em especial os de liberação gradual de nutrientes, são interessantes alternativas que beneficiam a biota do solo e favorecem a mineralização do nitrogênio (N). A adubação com orgânicos ou organominerais ainda apresenta outra vantagem: a utilização de subprodutos, inserindo essa indústria no importante conceito de economia circular. Estes fertilizantes ainda atuam na estabilidade da estrutura do solo, com destaque para a porosidade, o que aumenta a retenção de água e oxigênio.
Em relação à preservação da atmosfera e à liberação de GEE, muito ainda se discute o papel da agricultura. Como cita Machado (2005), os ecossistemas terrestres que compreendem a vegetação e o solo são considerados atualmente como um grande armazém de carbono, especialmente os solos. Ainda segundo este autor, há diversas maneiras pelas quais o manejo apropriado da biosfera terrestre, particularmente do solo, possa resultar em significativa redução na emissão dos GEE, contribuindo para o desenvolvimento sustentável das culturas.
De acordo com o portal da Embrapa (2020), a questão da equidade social tem se tornado primordial para os compradores dos produtos oriundos da agropecuária. Assim, o respeito ao ser humano envolvido na produção deve ser considerado, algo simples e que permeia os princípios mais básicos de humanidade. Têm-se observado grandes avanços nesse importante quesito. As condições dos trabalhadores têm melhorado muito e estes têm sido considerados como sujeitos do processo.
Desafios que persistem
Muitos desafios relacionados à implementação de práticas sustentáveis na agricultura já foram superados, entretanto, alguns pontos ainda exigem atenção. Neste sentido, em 2018 a Embrapa publicou o livro “Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira”, onde os autores discorrem, dentre outros temas, sobre a importância das mudanças socioeconômicas e espaciais na agricultura, bem como sobre a intensificação da sustentabilidade nos sistemas agrícolas. Dentre os muitos desafios citados neste livro, os autores ressaltam que deve haver estímulo da reestruturação das organizações de assistência técnica e extensão rural (Ater) públicas e privadas para ações regionalizadas
De certa forma, as práticas ecológicas que visam à sustentabilidade ainda custam caro ao produtor rural brasileiro, seja por adesão e implementação de novas tecnologias, seja por qualificação de mão de obra, ou até mesmo pela porcentagem da área destinada à preservação (prevista por lei no Brasil). Sendo assim – sem poder aumentar o preço de venda de seu produto, o agricultor se vê, muitas vezes, em situação de paralisia frente às mudanças necessárias para que o manejo prático promovido em sua propriedade esteja alinhado às práticas sustentáveis. Quanto a isto, a Embrapa (2018) sugere que deve-se focar no incremento ao poder de barganha dos produtores das cadeias produtivas agroalimentares, especialmente pequenos e médios, diante das grandes redes varejistas e grandes grupos industriais, fazendo com que estes pequenos e médios agricultores se sintam mais confortáveis ao adotarem os conceitos de agricultura sustentável, uma vez que – em médio prazo, a sustentabilidade trará também benefícios econômicos.
Qual amanhã você quer colher?
A ILSA é referência mundial na busca e transformação de matérias-primas renováveis em produtos de alto desempenho para a agricultura moderna. Nosso principal desafio é atender às necessidades de uma agricultura cada vez mais especializada, desenvolvendo produtos de forma sustentável e com plena responsabilidade social e ambiental. Nosso centro de Pesquisa e Desenvolvimento está comprometido em buscar soluções biotecnológicas que permitam obter substâncias e compostos bioativos para nutrir o solo e as plantas, de modo a promover uma agricultura saudável e em harmonia com o meio ambiente. Desta forma, além de reduzir o impacto ambiental de cada produto, buscamos ser sustentáveis em todos os processos que envolvem a produção de nossos fertilizantes.
Com isto, é importante ressaltar que o valor de um fertilizante orgânico vai além do simples fornecimento de nutrientes, pois sua utilização confere muitos efeitos benéficos ao solo. A matéria orgânica funciona como uma fonte de energia para os microrganismos úteis (que fixam o nitrogênio do ar na rizosfera e fungos que se associam às raízes), melhora a estrutura e o arejamento, além da capacidade de armazenar umidade. Apresenta efeito regulador na temperatura do solo, retarda a fixação do fósforo e aumenta a capacidade de troca de cátions (CTC), ajuda a segurar o potássio, cálcio, magnésio e outros nutrientes em formas disponíveis para as raízes, protegendo-as da lixiviação pela água da chuva ou de práticas de irrigação. Além de tudo isso, alguns produtos de sua decomposição têm efeito estimulante para o desenvolvimento das raízes (MALAVOLTA et al., 2000).
Referências bibliográficas
CAMARGO, F.S.; SOARES, C.O. Perspectivas para inovação no agronegócio brasileiro. Revista de Política Agrícola, Ano XXX, n. 3, p. 3-7, 2021.
CARBONERA, R.; FERNANDES, S.B.V.; OLIVEIRA, F.G.; MELLO, J.B.; UHDE, E.M.; RIGO, D.S. Diversidade de sistemas produtivos e sustentabilidade na agricultura. Desenvolvimento Regional em debate, Caçador, v. 10, p. 98-118, 2020.
EMBRAPA. Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira. Brasília, 2018. 212 p.
FRANCHINI, J.C.; COSTA, J.M.; DEBIASI, H.; TORRES, H. Importância da rotação de culturas para a produção agrícola sustentável no Paraná. Londrina: Embrapa Soja, 2011, 52 p.
FIDELIS, R.R.; ROCHA, R.N.C.; LEITE, V.T.; TANCREDI, F.D. Alguns aspectos do plantio direto para a cultura da soja. Bioscience Journal, Uberlândia, v.19, n.1, p.23-31, 2003.
LOPES, M.A. A agricultura e o desafio da sustentabilidade. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/sustentabilidade/index.htm>.
MACHADO, P.L.O.A. Carbono do solo e a mitigação da mudança climática global. Química Nova, vol.28, n.2, p. 329-334, 2005.
MALAVOLTA, E.; GOMES, F.P.; ALCARDE, J.C. Adubos e adubações. [S.l: s.n.], 2000.
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) – disponível em: https://www.fao.org/brasil/pt/
Portal Embrapa – disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/57539373/artigo—sustentabilidade-na-agricultura
U.S. Department of Agriculture (USDA) – disponível em: https://www.usda.gov/
Autores
- Eng. Agr. Msc. Aline Tramontini dos Santos
- Eng. Agr. Msc. Carolina Custódio Pinto
- Eng. Agr. Msc. Thiago Stella de Freitas