A alface (Lactuca sativa L.) está entre os alimentos mais consumidos pelos brasileiros e é a hortaliça folhosa de maior importância econômica no Brasil. Fonte de minerais e vitaminas, o consumo de alface ajuda a melhorar a digestão, reduzir o colesterol e, ainda, atua como antioxidante. O estado de São Paulo é o maior produtor da cultura, sendo responsável por 32 % da alface consumida no Brasil, com uma produção média de 10.775 hectares, de acordo com dados do Instituto Biológico (IB). Costa e Sala (2005) citam que é uma planta geralmente cultivada em condições de agricultura familiar, de maneira intensiva, em pequenas propriedades situadas em áreas no perímetro urbano ou nos cinturões verdes dos grandes centros urbanos.
Segundo Yuri et al. (2016), a cultura da alface apresenta um desenvolvimento adequado quando cultivada em solos estruturados, arejados, ricos em matéria orgânica e com adequada umidade. Por apresentarem ciclo rápido, são plantas exigentes em nutrientes, principalmente fósforo, nitrogênio, cálcio e potássio, não podendo desprezar-se, entretanto, a importância dos demais.
Contudo, a utilização de fertilizantes químicos vem sofrendo alterações no decorrer dos anos, isso se dá em decorrência dos altos preços, perdas dos fertilizantes, e os impactos causados ao meio ambiente em função de seu mau uso (Fernandes et al., 2020). Altas quantidades de nutrientes são perdidas por processos de volatilização, lixiviação e adsorção, acarretando na acidificação dos solos e degradação do mesmo pela deficiência de nutrientes (Manual Internacional de Fertilidade do Solo, 1998).
Em contrapartida, os fertilizantes organominerais surgem como uma alternativa promissora, tanto para a destinação segura dos resíduos animais ou industriais, quanto para a obtenção de fertilizantes de alta eficiência. Esses produtos derivam da mistura entre fertilizantes minerais e orgânicos, possuindo liberação gradual de nutrientes e permitindo assim maior disponibilidade às plantas ao longo do tempo. A partir deste contexto, o objetivo deste experimento foi avaliar o desenvolvimento de plantas de alface com o uso de adubos organominerais e minerais.
Material e métodos
O experimento foi realizado em casa de vegetação, na Universidade Oeste de Santa Catarina – Unoesc, Campus aproximado de Campos Novos, Campos Novos, SC, desenvolvido pela engenheira agrônoma Bruna Eduarda Becker, sob orientação da Dra. Analu Mantovani. O solo utilizado foi retirado da camada de 0 a 20 cm e classificado como Nitossolo vermelho, textura argilosa a muito argilosa, segundo critérios da Embrapa (2013); e a cultivar utilizada foi a crespa.
A partir do resultado da análise do solo (previamente realizada), e com base no manual de adubação para a cultura da alface, recomendou-se: nitrogênio (140 kg ha-1 de N), fósforo (240 kg ha-1 de P2O5) e potássio (150 kg ha-1 de K2O). O experimento foi conduzido em vasos de 3,5 litros preenchidos com solo, deixando uma planta por vaso para condução. Foram realizados quatro tratamentos e as quantidades de adubos por vaso estão descritos na Tabela 1. Para a testemunha, utilizou-se apenas o solo sem aplicações; para os tratamentos organominerais foi utilizado o fertilizante Gradual Mix, na formulação 06-15-10, onde o tratamento 1 foi utilizado pela necessidade de P e o tratamento 2 para a necessidade de N. Já para o tratamento mineral, utilizou-se ureia para suprimento de N, superfosfato triplo para adubação de P2O5 e cloreto de potássio para adubação de K2O.
Tabela 1. Descrição dos tratamentos.
Tratamento | N | P2O5 | K2O |
—————————— g vaso-1 ———————————- | |||
Testemunha | 0 | 0 | 0 |
Organomineral P | 0,18 | 0,44 | 0,30 |
Organomineral N | 0,26 | 0,65 | 0,43 |
Mineral | 0,27 | 0,45 | 0,30 |
As plantas foram avaliadas quanto ao número de folhas, massa seca de parte aérea (MSPA) e massa fresca de parte aérea (MFPA). Os dados coletados foram submetidos à análise de variância F e, quando detectadas variações significativas, as médias foram comparadas através do teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
Resultados e discussão
O tratamento que apresentou o maior número de folhas foi o mineral, seguido do organomineral Gradual Mix® para fósforo. O menor número de folhas foi encontrado no tratamento testemunha (Tabela 2). Este incremento pode ser explicado pelo fato de que doses adequadas de nitrogênio favorecem o crescimento vegetativo, o acúmulo de massa e aumento da área foliar, como cita Malavolta (2006), e, consequentemente, a expressão do potencial produtivo da cultura. Esse fato ocorre devido ao efeito do nutriente na absorção iônica, fotossíntese, respiração, multiplicação e diferenciação celular (Malavolta et al., 1997).
Tabela 2. Número de folhas, massa seca de parte aérea (MSPA) e massa fresca de parte aérea (MFPA) de alface.
Tratamento | Nº de folhas | Massa seca (g) | Massa fresca (g) |
Testemunha | 20,7 | 43,6 | 2,5 |
Organomineral P | 24,7 | 163,8 | 10,2 |
Organomineral N | 22,3 | 119,9 | 7,4 |
Mineral | 27,7 | 108,4 | 6,4 |
Média | 23,85 | 108,9 | 6,6 |
Para as variáveis MSPA e MFPA, os melhores resultados foram encontrados em plantas tratadas com Gradual Mix®, tanto quando aplicado pela necessidade de fósforo, quando aplicado pela necessidade de nitrogênio. Para Mota (2013), os fertilizantes de liberação gradual retardam a disponibilidade inicial dos nutrientes ou incrementam a sua disponibilidade no tempo através de determinados mecanismos. Desta forma, permitem o pleno desenvolvimento da cultura, resultando em maior qualidade.
Conclusão
A utilização do fertilizante Gradual Mix® na formulação 06-15-10 aplicado pela necessidade do fósforo e do nitrogênio proporcionou maior produção de massa seca e fresca na cultura da alface, em função do equilíbrio nutricional e efeito orgânico do adubo. O Gradual Mix® faz parte da família de fertilizantes organominerais à base de AZOGEL®, exclusivos da ILSA e caracterizada pela presença de altos teores de nitrogênio orgânico e aminoácidos provenientes de proteínas hidrolisadas associadas a outras fontes de fertilizantes minerais. A utilização destes fertilizantes traz inúmeros benefícios à lavoura, como nitrogênio assimilável por mais tempo, permitindo um desenvolvimento vegetativo equilibrado, além de menores perdas dos nutrientes minerais devido a ação protetora da matéria orgânica de alta CTC. Além disto, a presença dos aminoácidos aumenta a capacidade das plantas em suportar condições de estresse biótico e abiótico e apresenta alta afinidade biológica, estimulando o desenvolvimento microbiano e a vida no solo.
Referências bibliográficas
COSTA, C.P. da; SALA, F.C. A evolução da alfacicultura brasileira. Horticultura Brasileira, n. 23, artigo de capa, 2005.
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Brasília: EMBRAPA, 412p. 2013.
FERNANDES, P.H.; PORTO, D.W.B.; FRANÇA, A.C.; FRANCO, M.H.R.; MACHADO, C.M.M. Uso de fertilizantes organominerais fosfatados no cultivo da alface e de milho em sucessão. Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n.6, p.37907-37922, 2020.
LOPES, A.S. Manual Internacional de Fertilidade do Solo. Associação Brasileira da Potassa e do Fosfato, Piracicaba, ed. 2, 1998. 177 p.
MALAVOLTA, E. Manual de nutrição mineral de plantas. São Paulo, Ceres, 2006. 638p
MALAVOLTA, E.; VITTI, G. C.; OLIVEIRA, S. A. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. 2 ed. Piracicaba: POTAFÓS, 1997. 319 p.
MOTA, E.P. da. Fertilizantes nitrogenados de liberação gradual: longevidade e volatilização em ambiente controlado. Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba, 2013. 105 p. (Dissertação de Mestrado)
YURI, J.E.; MOTA, J.H.; RESENDE, G.M. de; SOUZA, R.J. de. Nutrição e adubação de hortaliças. Embrapa Semiárido, Petrolina, v. 1, 2016. 12 p. (Parte do livro)
Autores
- Eng. Agr. Msc. Aline Tramontini dos Santos
- Eng. Agr. Msc. Carolina Custódio Pinto
- Eng. Agr. Msc. Thiago Stella de Freitas