O Brasil, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), é o maior produtor e exportador mundial de café e o segundo maior consumidor da bebida no mundo. A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) desenvolveu um mapa da produção cafeeira brasileira, onde referencia que seis estados brasileiros são os maiores responsáveis pelo cultivo. São eles: Minas Gerais (MG), Espírito Santo (ES), São Paulo (SP), Bahia (BA), Paraná (PR) e Rondônia (RO). Ainda de acordo com a CONAB, a área destinada à cafeicultura no país em 2021, ano de bienalidade negativa, totalizou (até setembro de 2021) 2.214,2 mil hectares, aumento de 2,4 % sobre a área da safra anterior, com 1.800,6 mil hectares para as lavouras em produção (redução de 4,4 % em relação ao ano anterior) e 413,6 mil hectares em formação (acréscimo de 49,2 % em comparação ao ciclo anterior).
Em relação à nutrição, o nitrogênio é altamente exigido e o mais acumulado pelo cafeeiro, de acordo com o Manual do Café (Mesquita et al., 2016). Ainda citam que uma adubação nitrogenada adequada é fundamental tanto ao crescimento estrutural da planta (folhas, caule, ramos e raízes), como também ao florescimento e à frutificação. Já o potássio é o segundo nutriente mais demandado pelo cafeeiro, exerce importante papel na fotossíntese, respiração e circulação da seiva, sendo que a sua exigência é maior em plantas mais velhas. O fósforo é um macronutriente que, na fase adulta da planta, é menos exigido em quantidade que o nitrogênio e o potássio, diferentemente da fase de formação, quando atua na estruturação das raízes e do lenho, sendo normalmente aplicado na adubação de plantio.
O cafeeiro arábica apresenta bienalidade em relação à produção, que pode ser definida como a diferença acentuada de produção entre um ano e outro devido à necessidade de recomposição de reservas da planta. Os efeitos fisiológicos da bienalidade negativa, observados em diversas regiões produtoras neste ciclo de 2020/21, bem como as condições climáticas adversas de seca em muitas localidades, aliada às geadas, embora com pouca interferência, ocorridas em junho e julho, influenciaram diretamente na redução do rendimento médio e na diminuição da área em produção do café no Brasil, de acordo com a CONAB.
Diante do exposto, a avaliação dos tratamentos após duas safras seguidas é imprescindível para que a bienalidade não mascare o resultado. O objetivo deste experimento foi avaliar a eficiência agronômica de fertilizantes organominerais nitrogenados da empresa ILSA – N-Time e AZOSLOW 29, para uso em conjunto com fertilizantes minerais no manejo nutricional do cafeeiro cultivado em regime de sequeiro, nas safras 2019/20 e 2020/21.
Material e métodos
O ensaio de campo foi instalado no município de São João da Boa Vista – SP, na Fazenda Cachoeirinha, sob coordenação do Eng. Agrônomo, Dr. Ricardo Teixeira. A variedade utilizada foi a Catucai 2 SL, com 3 anos de idade na safra 2019-20 e 4 anos de idade na safra 2020-21, com espaçamento de 3,50 m X 0,60 m, sob densidade de 4.761 plantas.ha-1. Foram realizados cinco tratamentos com cinco repetições cada, que serão descritos a seguir.
- Tratamento 1 (T1) – Testemunha A: 4 aplicações somente com fertilizantes minerais, sendo a primeira com 100 kg.ha-1 de ureia e mais três aplicações com 400 kg.ha-1 por aplicação do formulado 20-00-20.
- Tratamento 2 (T2) – Testemunha B: 4 aplicações somente com fertilizantes minerais, sendo a primeira com 130 kg.ha-1 de ureia e mais três aplicações com 400 kg.ha-1 por aplicação do formulado 20-00-20.
- Tratamento 3 (T3) – N-Time A: 4 aplicações sendo a primeira aplicação com 250 kg.ha-1 de N-Time (12,5 % N) e mais três aplicações com 400 kg.ha-1 por aplicação do formulado 20-00-20.
- Tratamento 4 (T4) – N-Time B: 4 aplicações sendo a primeira aplicação com 400 kg.ha-1 de N-Time (12,5 % N) e mais três aplicações com 400 kg.ha-1 por aplicação do formulado 20-00-20.
- Tratamento 5 (T5) – AZOSLOW 29: 4 aplicações sendo a primeira aplicação com 200 kg.ha-1 de AZOSLOW (29 % N) e mais três aplicações com 400 kg.ha-1 por aplicação do formulado 20-00-20.
Tratamento | N (kg.ha-1) | P2THE5 (kg.ha-1) | K2O (kg.ha-1) |
T1 – Testemunha A | 289,5 | 0 | 240 |
T2 – Testemunha B | 298,5 | 0 | 240 |
T3 – N-Time A | 271,2 | 0 | 240 |
T4 – N-Time B | 290,0 | 0 | 240 |
T5 – AZOSLOW 29 | 298,0 | 0 | 240 |
As aplicações foram realizadas manualmente, abaixo da projeção da copa e ocorreram nos meses de novembro/19, dezembro/19, janeiro/20, fevereiro/20, novembro/20, dezembro/20, janeiro/21 e fevereiro/21.
Para avaliação de eficiência agronômica, foram utilizados os seguintes parâmetros: níveis de nutrientes em folhas coletadas em 03 épocas do ano: outubro, fevereiro e abril; contagem de pares de folhas em ramos plagiotrópicos (ramos laterais produtivos); contagem de pares de folhas em ramos ortotrópicos (ramos ladrões – apicais, oriundos da superação de dormência do meristema apical, não produtivos) e produtividade. Os dados coletados, exceto os relativos às análises de folhas, foram avaliados através do teste de Tukey, a 5 % de probabilidade.
Resultados e discussão
Os teores de todos os macronutrientes e micronutrientes, nas duas safras, se mantiveram dentro dos níveis adequados preconizados pelo Boletim 100 – IAC, nas duas amostragens realizadas em outubro e fevereiro.
Os resultados sobre crescimento vegetativo das plantas de café em ambas as safras estão expostos na Tabela 1. Observa-se que o tratamento AZOSLOW 29 (T5) proporcionou, em média nas duas safras, 0,6 par de folhas em ramos plagiotrópicos a mais quando comparado ao tratamento T1, que apresentou o maior crescimento entre as duas testemunhas. No caso dos ramos apicais (não produtivos), o tratamento T2 foi levemente superior ao N-Time B (T4) em apenas 0,1 par de folhas.
Tabela 1. Crescimento vegetativo de ramos laterais (plagiotrópicos) e apicais (ortotrópicos) de café nas safras 2019/20 e 2020/21.
Tratamentos | Ramos Laterais Safra 19/20 | Ramos Laterais Safra 20/21 | Ramos Laterais Média das Safras | Ramos Apicais Safra 19/20 | Ramos Apicais Safra 20/21 | Ramos Apicais Média das Safras |
T1 – Testemunha A | 7,2 | 6,2 | 6,7 | 8,9 | 6,6 | 7,8 |
T2 – Testemunha B | 6,7 | 5,6 | 6,1 | 9,2 | 6,8 | 8,0 |
T3 – N-Time A | 6,6 | 6,4 | 6,5 | 9,1 | 6,4 | 7,7 |
T4 – N-Time B | 7,4 | 6,2 | 6,8 | 9,1 | 6,8 | 7,9 |
T5 – AZOSLOW 29 | 7,0 | 6,8 | 6,9 | 8,6 | 7,0 | 7,8 |
Média | 6,9 | 6,2 | 6,6 | 8,9 | 6,7 | 7,8 |
Para Castro e Carvalho (2014), existem trabalhos que apontam melhorias dos parâmetros de produção de várias espécies cultivadas após a utilização de produtos à base de aminoácidos. Ainda citam que o incremento na produtividade pode estar relacionado ao aumento da tolerância vegetal a estresses abióticos devido a utilização de produtos à base de aminoácidos – que podem vir a ser utilizados como bioativadores vegetais, melhorando a absorção de nutrientes.
É possível observar que os dois tratamentos com N-Time e o tratamento com AZOSLOW 29 foram superiores em produtividade em relação às duas testemunhas (Tabela 2). Os tratamentos N-Time B (T4) e AZOSLOW 29 (T5) produziram, em média e respectivamente, 4,2 sc.ha-1e 4,3 sc.ha-1 a mais quando comparada ao T2, que alcançou a melhor produtividade entre as testemunhas. Vale destacar também o N-Time A (T3), que produziu 2,2 sc.ha-1 a mais que a testemunha B, apesar de disponibilizar 27,3 kg.ha-1 menos de nitrogênio ou 9,15 %.
Tabela 2. Produtividade de café nas safras 2019/20 e 2020/21.
Tratamentos | Safra 19/20 (sc.ha-1) | Safra 20/21 (sc.ha-1) | Média das safras (sc.ha-1) |
T1 – Testemunha A | 61,3 | 28,4 | 44,8 |
T2 – Testemunha B | 65,1 | 29,2 | 47,2 |
T3 – N-Time A | 62,1 | 36,7 | 49,4 |
T4 – N-Time B | 69,4 | 33,4 | 51,4 |
T5 – AZOSLOW 29 | 71,3 | 31,7 | 51,5 |
Média | 66,0 | 31,8 | 48,8 |
Como cita Costa (2009), a importância dos aminoácidos na planta é indiscutível, pois estão envolvidos em grande parte do metabolismo primário e secundário, levando à síntese de vários compostos que influenciam na produção e qualidade dos frutos do cafeeiro. Além disto, os aminoácidos são rapidamente incorporados ao metabolismo como se fossem sintetizados pela planta contribuindo para o processo de desenvolvimento e crescimento (Lima et al., 2009).
Conclusão
Nos dois anos de ensaios os resultados foram promissores para o uso dos fertilizantes orgânicos N-Time nas doses de 250 e 400 kg.ha-1; e AZOSLOW 29 na dose de 200 kg.ha-1 Desta forma, os fertilizantes da ILSA Brasil podem ser utilizados eficientemente como opção de manejo nutricional em cafeeiro arábica quando comparado com a mais comum fonte nitrogenada utilizada na cafeicultura brasileira, a ureia.
O AZOGEL® é a matriz orgânica da ILSA Brasil de onde derivam os produtos orgânicos e organominerais sólidos de aplicação via solo, oriunda a partir do processo de hidrólise térmica do colágeno – proteína rica em nitrogênio e carbono orgânicos. Devido à alta homogeneidade da matriz, que apresenta elevado teor de carbono e nitrogênio orgânicos, ambos altamente disponíveis para os microrganismos presentes no solo e na rizosfera, permitem a liberação do nitrogênio e de aminoácidos de forma gradual, mediada pelos microrganismos do solo.
Para Dario et al. (2014), aminoácidos são moléculas essenciais ao metabolismo primário e secundário das plantas. Ainda citam que os benefícios e funções destes são atribuídos em razão deles fazerem parte da síntese de proteínas, agir como precursor de hormônios vegetais endógenos, ser quelante de nutrientes, permitir maior resistência ao ataque de pragas e doenças, criando resistência na planta com condições de estresse hídrico, assim como possibilitam o aumento da produção e redução no uso de fertilizantes, bem como atuam como indutores de maior desenvolvimento do sistema radicular, e também possibilitando o aumento do teor de sólido solúvel nos frutos.
Tiago e Caetano (2008) (citados por Lermen et al.) sugerem que, mesmo a planta produzindo os aminoácidos, alguns trabalhos demonstram que o fornecimento exógeno de aminoácidos possibilita efeitos benéficos que se traduzem em ganhos significativos nos processos de desenvolvimento vegetal das plantas. A aplicação de aminoácidos pode ser feita em todas as culturas, e seus efeitos do fornecimento são mais perceptíveis quando se refere à absorção e transporte de íons.
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Bibliographic references
CASTRO, P.R.C.; CARVALHO, M.E.A. Aminoácidos e suas aplicações na agricultura. Série Produtor Rural, Piracicaba, n.57, 2014, 58 p.
Companhia Brasileira de Abastecimento – CONAB. Acompanhamento da Safra Brasileira de Café: 3º Levantamento (setembro, 2021), Brasília, n. 8, v. 3, 2021. 59 p.
COSTA, R.A. Fertilizantes minerais e aminoácidos aplicados via foliar na produtividade, desenvolvimento vegetativo e nutrição do cafeeiro. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2009. 57 f. (Dissertação de Mestrado)
DARIO, G. J. A.; DARIO, I. S. N.; VAZQUEZ, G. H.; PERES, A. R. Adubação foliar com produtos à base de aminoácidos e fosfito na cultura do arroz irrigado. Revista de Ciências Agroveterinárias. Lages, SC, Brasil, 13, n.2, p.119-129, 2014.
LERMEN, L.; SORDI, T.J.; CASIMIRO, E.L.N. Efeito das diferentes formas e dosagens de aminoácidos no tratamento de sementes da ervilha. Centro Universitário FAG, Paraná.
LIMA, M.G.S.; MENDES, C. R.; NASCIMENTO, R. do; LOPES, N. F.; CARVALHO, M. A. P. Avaliação bioquímica de plantas de milho pulverizadas com ureia isolada e em associação com aminoácidos. Revista Ceres, v.56, p.358-363, 2009.
MESQUITA, C.M. et al. Manual do café manejo de cafezais em produção. EMATER, Belo Horizonte, 2016. 72 p. il.
Portal eletrônico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA): https://www.gov.br/agricultura/pt-br
TEIXEIRA, R. Avaliação de eficiência agronômica na utilização de fertilizantes nitrogenados orgânicos oriundos de colágeno da empresa ILSA no manejo nutricional do cafeeiro arábica nas safras 2019/2020 e 2020/2021. Relatório técnico-científico interno. 2021. 12 p.
TIAGO, G.; CAETANO, M.L. Aminoácidos em sintonia com o campo. Revista campo e negócios. Uberlândia. Junho. 2005.
Authors
- Agricultural Eng. Msc. Aline Tramontini dos Santos
- Agricultural Eng. Msc. Carolina Custodio Pinto
- Agricultural Eng. Msc. Thiago Stella de Freitas