Chama-se de hortaliça um grupo de mais de 100 espécies de plantas alimentares de elevado valor nutritivo, das quais se consomem diferentes partes cruas, cozidas ou processadas, dependendo de cada espécie (Brainer, 2021). A olericultura é o ramo da agricultura que abrange a exploração de hortaliças e engloba a produção de culturas folhosas (alface, couve), raízes (cenoura e mandioquinha-salsa), bulbos (cebola e alho), tubérculos (batata) e frutos diversos (tomate, berinjela, quiabo). Diferentemente de atividades extensivas, a olericultura é uma atividade agrícola que se estende o ano todo, independentemente da estação do ano. O mercado brasileiro de hortaliças é altamente diversificado e segmentado, com o volume de produção concentrado em seis espécies – batata, tomate, melancia, alface, cebola e cenoura, sendo a agricultura familiar responsável por mais da metade da produção, como citado no site da Embrapa.
As hortaliças são alimentos comuns no prato dos brasileiros, e possuem os mais diversos usos gastronômicos, além de serem importantes fontes de vitaminas, sais minerais, fibras e antioxidantes essenciais à saúde. Em relação às vitaminas, a única não fornecida pelas hortaliças é a B12, por estar presente apenas em alimentos de origem animal. Algumas vitaminas e minerais, que são hidrossolúveis (solúveis em água), depois de aproveitados pelo nosso organismo são facilmente eliminados, como por exemplo a vitamina C, e aí está a importância do consumo diário desses alimentos. As hortaliças, além de fornecer nutrientes fundamentais para o bom funcionamento do organismo, ainda auxiliam na hidratação. Por sua vez, o baixo consumo pode ocasionar carências nutricionais, fragilizando-o e tornando-o mais suscetível a doenças. Ainda, o consumo diário de hortaliças pode protelar ou evitar as doenças degenerativas, além de apresentar um aumento da disposição e a diminuição de riscos de doenças como a hipertensão e a diabetes.
Importância econômica das hortaliças para o Brasil
No Brasil, a olericultura evoluiu mais acentuadamente a partir da década de 1940, durante a 2ª Guerra Mundial, como cita Caetano (2014). Ainda de acordo com este autor, naquela época, existiam apenas pequenas explorações diversificadas, localizadas nos cinturões verdes dos arredores das cidades. Houve o deslocamento em direção ao meio rural, estabelecendo-se em áreas maiores e mais especializadas. A partir deste ponto, a olericultura nacional evoluiu de pequena horta para uma exploração comercial com características bem definidas.
Atualmente, o mercado brasileiro de hortaliças é altamente diversificado e segmentado, com dezenas de olerícolas sendo comercializadas e consumidas nas diferentes regiões do país, embora o volume da produção tenha se concentrado em poucas espécies, como alface, batata, cebola, cenoura, melancia e tomate. A produção de grande parte do volume comercializado das hortaliças no Brasil é realizada por pequenos agricultores, geralmente denominados como familiares. Diante do cenário econômico atual, a agricultura familiar destaca-se como o segmento em constante crescimento econômico e social por meio da produção agrícola de alimentos olerícolas, aumento no número de estabelecimentos rurais e na geração de emprego o meio rural (Carvalho et al., 2015). A área das principais culturas e regiões produtoras deve aumentar em 2022, compensando, em parte, a redução em 2020 e 2021. Esse incremento é concentrado novamente no segmento industrial de tomate e batata, além de uma recuperação parcial da área de alface (principais regiões produtoras do Sudeste), de acordo com o Anuário Hortifruti Brasil (2021-2022).
De acordo com o Censo Agropecuário 2017 e da Pesquisa Agrícola Municipal (PAM), ambos provenientes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área nacional ocupada com as 10 principais culturas hortícolas é de 1,6 milhão de hectares, onde se produziram 30,5 milhões de toneladas de hortaliças. As maiores áreas estão no Nordeste (524 mil ha), sobretudo nos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco e Rio Grande do Norte. A principal produtora regional é a Sul, seguida pela Sudeste, Norte e Nordeste com produções bem próximas. A comercialização desses produtos é feita em diferentes canais, como as centrais de distribuição (CDs) das grandes redes de supermercados, mercados menores, sacolões, feiras livres, restaurantes e/ou nas centrais de abastecimento (Ceasa, Ceagesp). O setor varejista tem se mostrado como um dos principais canais de distribuição de hortaliças, sendo que os supermercados constituem o principal canal nas áreas metropolitanas.
Adubação e manejo de hortaliças
A resposta das plantas olerícolas a adubação é influenciada por vários fatores, espécie cultivada, clima, tipo de solo, fonte de nutrientes utilizada na adubação, entre outros (Andrade et al., 2012). Como já mencionado, as hortaliças compreendem uma variedade muito grande de espécies, apresentando, portanto, diferentes exigências nutricionais e preferências por tipos de solos. Por este motivo, o tópico de adubação e manejo será dividido por partes da planta que são consumidas.
- Culturas folhosas
As culturas folhosas, a exemplo a alface, respondem muito bem à adubação nitrogenada. Entretanto, este mineral requer um manejo especial, uma vez que as folhosas absorvem maiores quantidades de N no período final do ciclo. Em casos de deficiência, percebe-se a redução severa na produtividade, havendo um amarelecimento uniforme nas folhas mais velhas, devido a sua mobilidade para as folhas mais novas, como citam Yuri et al (2016). Em relação ao fósforo (P), as hortaliças folhosas possuem alta exigência, especialmente no período de transplantio de mudas. A sua deficiência pode causar redução no desenvolvimento e amarelecimento das bordas das folhas mais velhas. O potássio (K) é o segundo elemento mais exigido pelas folhosas, ficando atrás apenas do P, e seu manejo também é feito no período de transplantio.
É importante mencionar que as culturas folhosas apresentam um ciclo de desenvolvimento rápido, necessitando de uma adequada aplicação dos fertilizantes para que os mesmos estejam prontamente disponíveis às necessidades das plantas. Desta forma, a correta interpretação da análise de solo e da diagnose foliar propiciam informações para determinar as doses e as épocas adequadas de aplicação destes nutrientes.
- Raízes
As raízes tuberosas – responsáveis pelo armazenamento de nutrientes, de maneira geral, preferem solos de textura média e bem drenados, ricos em matéria orgânica e com pH levemente ácido (Luz et al., 2009). Pesquisas conduzidas no Brasil mostram que a extração de macronutrientes por raízes tuberosas, como a cenoura, apresenta a seguinte ordem decrescente: K, N, Ca, P, S e Mg. De maneira geral, a adubação de N e K é feita em sua maioria em cobertura e o fornecimento de Ca é creditado somente à aplicação de calcário e gesso (Raij et al., 1997; Ribeiro et al., 1999). Luz et al. (2009) mostram ainda que a aplicação conjunta de fontes de N, K e Ca aumentam consideravelmente a produtividade de raízes tuberosas.
- Bulbos
A cebola e o alho situam-se entre as hortaliças mais sensíveis à acidez do solo, com pH ótimo próximo a 6,0 (5,5 > pH > 6,5). São plantas exigentes em N, P e K, entretanto, em situações de excesso de N, podem apresentar pseudoperfilhamento, comprometendo a produtividade final. De maneira geral, a recomendação é de que seja feita uma adubação pré-plantio, que deve ser incorporada entre 7 e 10 dias antes da semeadura, e a utilização de fertilizantes orgânicos. Em relação à adubação de cobertura, as quantidades de N, P e K dependerão da avaliação da cultura antecedente, da fertilização orgânica anterior, do estande de plantas e da produtividade desejada ou esperada, como citam Trani et al. (2014). Outros fatores a considerar são: o estado vegetativo das plantas no campo, a exigência nutricional das cultivares utilizadas e o sistema de plantio utilizado.
- Tubérculos
De acordo com a Embrapa Hortaliças, cerca de 78 % do P, 68 % K, 65 % do N, 65 % do enxofre (S), 33 % do magnésio (Mg) e 9 % do cálcio (Ca) absorvidos por esse grupo de hortaliças são acumulados nos tubérculos. O momento adequado da aplicação, bem como a época e dose de cada nutriente também é importante para o equilíbrio nutricional da planta para a obtenção de elevada produtividade. Considerando um ciclo de 90 a 110 dias, a absorção máxima de N, P, Ca, Mg e S ocorre na fase inicial de enchimento dos tubérculos (45 a 70 dias após o plantio – DAP). Já o K tem sua absorção mais concentrada entre 40 e 60 DAP.
Ainda de acordo com a Embrapa, existe uma época crítica em que a cultura de tubérculos necessita de praticamente todos os nutrientes disponíveis em quantidades relativamente altas, que vai desde o início da formação dos tubérculos, três a quatro semanas após a emergência, até próximo ao final do ciclo. A fase de enchimento de tubérculos é uma fase crítica em que a disponibilidade de nutrientes e de água no solo deve ser elevada, pois, nesse período, a acumulação de matéria seca e a absorção de nutrientes são muito rápidas.
- Frutos
Em relação ao tomate – uma das principais hortaliças produzidas no Brasil, a absorção de nutrientes é baixa até o aparecimento das primeiras flores. Daí em diante, a absorção aumenta e atinge o máximo na fase de pegamento e crescimento dos frutos (entre 40 e 70 dias após o plantio), voltando a decrescer durante a maturação dos frutos. A quantidade de nutrientes extraída pelo tomateiro é relativamente pequena, mas a exigência de adubação é muito grande, pois a eficiência de absorção dos nutrientes pela planta é baixa. Neste sentido, são consideradas plantas com alta exigência em N, Pe K, principalmente na época de frutificação – como já mencionado.
Outra hortaliça também importante para o mercado Brasileiro é a melancia, que, de acordo com Andrade Jr. et al. (2007), é considerada uma cultura relativamente tolerante à acidez do solo, quando comparada às demais cucurbitáceas, sendo que o pH mais adequado à cultura fica entre 5,0 e 7,0. A distribuição e absorção de nutrientes nesta cultura depende do seu estádio de desenvolvimento. Nos primeiros 30 dias após o plantio, a absorção e o acúmulo são relativamente pequenos, intensificando-se e atingindo o máximo entre os 40 e 50 dias. A absorção de nutrientes no período de frutificação tende a ser linear entre o surgimento dos frutos e a maturação fisiológica (45 a 65 dias), aumentando a exigência de adubação de cobertura, especialmente de N e K após os primeiros 30 dias de plantio. A partir dos 50 dias, a eficiência de absorção diminui drasticamente, tornando adubações de cobertura inadequadas.
O manejo de adubação de hortaliças é bastante complexo, devido a este grupo compreender um grande número de espécies e serem culturas com alta exigência nutricional. Acompanhe no próximo blog o manejo de adubação de hortaliças ILSA BRASIL.
Referencias bibliográficas
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ANDRADE JR., A.S.; et al. A cultura da melancia. Coleção Plantar, Embrapa Informação Tecnológica, Brasília, n. 57, ed. 2, 2007. 85 p.
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Autores
- Ing. Agr. Maestría en Ciencias. Aline Tramontini dos Santos
- Ing. Agr. Maestría en Ciencias. Carolina Custodio Pinto
- Ing. Agr. Maestría en Ciencias. Thiago Stella de Freitas