De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Brasil é o maior produtor e exportador de café e segundo maior consumidor da bebida no mundo. O café se configura como o 5º produto na pauta de exportação brasileira, devido à diversidade de regiões ocupadas pela cultura, a variedade de climas, relevos, altitudes e latitudes. O Brasil produz tipos variados de grãos, o que possibilita atender às diferentes demandas de paladar e preços dos consumidores brasileiros e estrangeiros. As duas principais espécies plantadas são o arábica (80 % da área) e, o conilon ou robusta. A produção concentra-se, principalmente, nos estados de Minas Gerais (MG), São Paulo (SP), Espírito Santo (ES) e Bahia (BA), segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
Na safra de 2021 a produção do café arábica foi estimada em 33,4 milhões de sacas, uma diminuição de 31,5 % em comparação ao volume produzido na safra passada, devido à bienalidade negativa. Na região do Cerrado, o cultivo é predominantemente de café arábica em sistema irrigado. De acordo com Folegatti e Fernandes (2013), para que um projeto de irrigação atinja seus objetivos, é necessário que o mesmo seja bem dimensionado e o manejo da irrigação eficiente. A fertirrigação representa um novo ambiente de produção na cafeicultura, que visa a maior eficiência no uso dos fertilizantes e a redução nos custos, favorecendo a sustentabilidade do setor (Quaggio e Souza, 2013).
Em relação à nutrição, o nitrogênio (N) é um nutriente altamente exigido e o mais acumulado pelo cafeeiro. Uma adubação nitrogenada adequada é fundamental ao crescimento estrutural da planta, ao florescimento e à frutificação (Mesquita et al., 2016). Esses autores ainda citam que o potássio (K) é o segundo nutriente mais demandado pelo cafeeiro, exerce importante papel na fotossíntese, respiração e circulação da seiva, sendo que a sua exigência é maior em plantas mais velhas. A demanda de fósforo (P) pelo cafeeiro é relativamente baixa, se comparada a de outros nutrientes.
O cafeeiro arábica apresenta bienalidade em relação à produção, caracterizada pela oscilação da produção em anos consecutivos. Ou seja, um ano a cultura produz um maior número de frutos, o que exige da planta mais nutrientes. Como consequência, no ano seguinte ela recompõe suas estruturas vegetais e reservas, reduzindo sua produção. Em função desta característica, a lavoura produz uma elevada carga em um ano, e no próximo ano a produção da lavoura é muito baixa. Portanto, para que não hajam dados “mascarados”, a avaliação de duas safras seguidas é de extrema importância. Diante do exposto, este ensaio teve como objetivo verificar em nível de campo a eficiência agronômica para o cafeeiro arábica irrigado, do produto GELAMIN® da empresa ILSA Brasil em conjunto com sais comumente utilizados e substâncias húmicas.
Material e métodos
O ensaio de campo foi instalado no município de São João da Boa Vista – SP, na Fazenda Cachoeirinha, sob coordenação de Ricardo Teixeira. A variedade utilizada foi a Catucai 2 SL, com 6 anos de idade na safra 2019/20 e 7 anos de idade na safra 2020/21, com espaçamento de 3,80 m X 0,60 m (4.385 plantas.ha-1). Foram realizados 3 tratamentos, que serão descritos a seguir.
- Tratamento 1 (T1 – ILSA GELAMIN®) – Foram utilizados (por hectare): 16 L de GELAMIN®, 17 L de Humonia (ácidos húmicos e fúlvicos), 785 kg de nitrato de amônio, 233 kg de nitrato de cálcio, 360 kg de cloreto de potássio pó branco, 150 kg de sulfato de magnésio, 15 kg de ácido bórico e 26 kg de MAP purificado.
- Tratamento 2 (T2 – ILSA GELAMIN®) – Foram utilizados (por hectare): 32 L de GELAMIN®, 780 kg de nitrato de amônio, 233 kg de nitrato de cálcio, 362 kg de cloreto de potássio pó branco, 150 kg de sulfato de magnésio, 15 kg de ácido bórico e 24 kg de MAP purificado.
- Tratamento 3 (T3 – Testemunha) – Foram utilizados (por hectare): 788 kg de nitrato de amônio, 233 kg de nitrato de cálcio, 361 kg de cloreto de potássio pó branco, 150 kg de sulfato de magnésio, 15 kg de ácido bórico e 34 kg de MAP purificado.
Na primeira safra, os tratamentos foram iniciados na semana 37 de 2019 e finalizados na semana 22 de 2020. Para a segunda safra, os tratamentos foram iniciados na semana 37 de 2020 e finalizados na semana 21 de 2021, sendo que a frequência das injeções ocorreu duas vezes por semana em ambas as safras. Durante todo o período foi realizado o acompanhamento semanal da lâmina de água por tensiometria, com leituras de tensiômetros instalados em três diferentes profundidades (20 cm, 40 cm e 60 cm).
A determinação das quantidades utilizadas, assim como da escolha das fontes, foi realizada conforme os dados da análise de solo retirada na região do bulbo úmido. Em cada tratamento foram demarcados 05 pontos para coleta de solos que, após a retirada e homogeneização, deram origem a uma análise de solo por tratamento.
Para avaliação de eficiência agronômica foram realizadas as seguintes análises: coleta de amostra de solo na região do bulbo úmido; duas coletas de folhas para análises de macro e de micronutrientes para verificação dos teores e se os mesmos estão nos níveis recomendados pelo Boletim Técnico 100 – IAC; acompanhamento da condutividade elétrica e pH no bulbo úmido; contagem de pares de folhas em ramos plagiotrópicos (ramos laterais produtivos) previamente demarcados com fitas em 43 plantas (1 % da população.ha-1). A referida contagem ocorreu dos dois lados das linhas de plantio, a 1,5 m de altura em relação ao solo; e produtividade estimada através da colheita manual de 5 plantas previamente marcadas em cada tratamento.
Resultados
Na análise de solo, nas duas safras, os três tratamentos apresentaram acidificação na região do bulbo úmido, sendo os tratamentos T1 (GELAMIN®) e T2 (GELAMIN®) em menor intensidade quando comparados à testemunha (Tabela 1). Entretanto, esta acidificação ocorrida não foi severa para o ciclo. Já em relação à matéria orgânica (MO), soma de bases (SB) e saturação de bases (V %) (Tabela 1), as variações foram muito baixas nos três tratamentos, assim como os níveis de macro e micronutrientes após a finalização das fertirrigações.
Tabela 1. Resultados das análises de solo antes do início das fertirrigações e vinte dias após a última injeção.
Tratos | ||||||
T1 – GELAMIN® | T2 – GELAMIN® | T3 – Testemunha | ||||
Safra 2019/20 | Início | Final | Início | Final | Início | Final |
pH (H2O) | 5,7 | 5,6 | 6,0 | 5,5 | 6,0 | 5,1 |
MO (mg.dm-3) | 2,6 | 2,3 | 2,4 | 2,4 | 2,7 | 2,6 |
SB(mmolc.dm-3) | 54,9 | 52,8 | 46,6 | 43,5 | 63,3 | 58,0 |
V (%) | 70 | 68 | 69 | 67 | 72 | 69 |
Safra 2020/21 | ||||||
pH (H2O) | 5,7 | 5,6 | 6,0 | 5,5 | 6,0 | 5,1 |
MO (mg.dm-3) | 2,6 | 2,3 | 2,4 | 2,4 | 2,7 | 2,6 |
SB(mmolc.dm-3) | 54,9 | 52,8 | 46,6 | 43,5 | 63,3 | 58,0 |
V (%) | 70 | 68 | 69 | 67 | 72 | 69 |
Os teores de macro e micronutrientes das folhas nas duas épocas de amostragens se mantiveram em níveis adequados, segundo o Boletim 100 – IAC. Ocorreram exceções com o P na safra 2019/20, que ficou abaixo do desejável (semanas 8 e 24) e voltou a se repetir na safra 2020/21 (semana 8) apesar das injeções no decorrer do ciclo. Houve também uma exceção com o K na safra 2019/20, que ficou abaixo do desejável (semana 24). Neste caso, pode ter havido interferência por interação entre os componentes orgânicos contidos nos produtos GELAMIN® e Humonia, promovendo maior disponibilidade do nutriente às plantas, já que os teores no solo estavam e permaneceram adequados e a quantidade aplicada do nutriente foi a mesma nos três tratamentos.
Em relação à condutividade elétrica, onde é desejável para o cafeeiro arábica não ultrapassar 1,3 mS.cm, os tratamentos T1 (GELAMIN®) e T2 (GELAMIN®) se mostraram mais eficientes em ambas as safras, excedendo este valor por apenas uma vez na safra 2019/20 e duas vezes na safra 2020/21, quando comparados à testemunha, que excedeu o valor por quatro vezes na safra 2019/20 e por cinco vezes na safra 2020/21. Isto pode ter ocorrido devido à presença de substâncias de origem orgânica que sequestram temporariamente os sais, formando complexos que gradativamente serão disponibilizados na solução do solo, impactando na condutividade elétrica e, consequentemente, no equilíbrio osmótico das plantas.
Para a variável de pH no bulbo úmido, não houve diferenças entre os tratamentos, sendo que todos causaram uma leve acidificação na região do bulbo. Entretanto, é importante ressaltar que – como já mencionado, o nível de acidificação foi menor nos tratamentos T1 e T2, ambos constituídos de GELAMIN®.
Os dados de crescimento vegetativo das plantas são apresentados na Tabela 2. É possível observar que os tratamentos T1 e T2 (ambos GELAMIN®), em média, proporcionaram respectivamente nas duas safras 1,17 e 1,08 par de folhas em ramos plagiotrópicos a mais quando comparados à testemunha. Segundo Thomaziello (2013), o cafeeiro é um arbusto de crescimento contínuo, caracterizado pela formação de dois tipos de ramos: ortotrópicos e plagiotrópicos. Os ramos plagiotrópicos, crescem horizontalmente, perpendiculares ao tronco principal e são responsáveis pela produção da planta. Portanto, maior quantidade desses ramos na planta representa maior produtividade.
Tabela 2. Crescimento vegetativo de plantas de café fertirrigado – número de pares de folhas de café fertirrigado em ramos plagiotrópicos (laterais produtivos) após a finalização das injeções de fertilizantes.
Pares de folhas | ||||||
Sol da manhã | Sol da tarde | Sol da manhã | Sol da tarde | Sol da manhã
| Sol da tarde
| |
T1 – GELAMIN® | T2 – GELAMIN® | T3 – Testemunha | ||||
Soma | 312 | 282 | 311 | 280 | 284 | 242 |
Média safra 19/20 | 6,90 | 6,87 | 5,70 | |||
Soma | 246 | 226 | 239 | 220 | 200 | 174 |
Média safra 20/21 | 5,49 | 5,34 | 4,35 | |||
Média das duas safras | 6,19 | 6,10 | 5,02 |
Como esperado, este maior crescimento dos ramos plagiotrópicos proporcionou, nos tratamentos T1 e T2, maior produtividade (Tabela 3). O tratamento T1 (GELAMIN®) foi superior aos demais tratamentos, produzindo, em média, 1,86 sc.ha-1 a mais quando comparado ao T2 (GELAMIN®) e 5,07 sc.ha-1 a mais quando comparado à testemunha.
Tabela 3. Produtividade (sc.ha-1) de café nas safras de 2019/20 2020/21, sob sistema de fertirrigação.
Tratamiento | Safra 2019/20 | Safra 2020/21 | Média das Safras |
T1 – GELAMIN® | 73,89 | 44,82 | 59,35 |
T2 – GELAMIN® | 71,78 | 43,20 | 57,49 |
T3 – Testemunha | 67,56 | 41,01 | 54,28 |
Média | 71,07 | 43,01 | 57,04 |
A aplicação de produtos à base de aminoácidos é uma forma de estimular o crescimento e desenvolvimento das plantas, uma vez que auxiliam na economia de energia na realização de diversos processos metabólicos ao longo do ciclo produtivo. Os aminoácidos contribuem para o aumento da produtividade das mais diversas culturas assim como possibilita uma melhor qualidade para os produtos agrícolas (Lermen et al.).
GELAMIN® – Exclusividade ILSA Brasil
Após dois anos consecutivos, os ensaios demonstraram que o produto GELAMIN® da ILSA Brasil, em condições de alta produtividade, pode ser utilizado como opção de manejo nutricional em cafeeiro arábica quando comparado somente à utilização de sais sobre regime de fertirrigação, usualmente feito no Brasil.
O GELAMIN® é uma matriz fabricada pela ILSA Brasil e comercializada em todos os continentes do mundo, sendo utilizada nos mais diversos cultivos. Trata-se de uma matriz orgânica produzida através do colágeno, rica em nitrogênio, carbono orgânico e aminoácidos. Como cita Costa (2009), a importância dos aminoácidos na planta é indiscutível, pois estão envolvidos em grande parte do metabolismo primário e secundário, levando à síntese de vários compostos que influenciam na produção e qualidade dos frutos do cafeeiro. Além disto, os aminoácidos são rapidamente incorporados ao metabolismo como se fossem sintetizados pela planta contribuindo para o processo de desenvolvimento e crescimento (Lima et al., 2009).
No presente estudo, a interação entre aminoácidos provenientes do GELAMIN® e substâncias húmicas se mostrou promissora. Misturas em diferentes proporções podem trazer resultados interessantes para o cafeeiro arábica sob regime de fertirrigação e novos ensaios devem ser conduzidos para comprovação.
Para saber mais sobre a matriz GELAMIN®, clique aqui: https://ilsabrasil.com.br/matriz-gelamin-exclusividade-da-ilsa-brasil/
Referencias bibliográficas
Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB (Disponível em: https://www.conab.gov.br/)
COSTA, R.A. Fertilizantes minerais e aminoácidos aplicados via foliar na produtividade, desenvolvimento vegetativo e nutrição do cafeeiro. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2009. 57 f. (Dissertação de Mestrado)
FOLEGATTI, M.V.; FERNANDES, A.L.T. Irrigação do cafeeiro: quando, quanto e por que se deve utilizar?. Visão Agrícola, Piracicaba, n. 12, p. 43-46, 2013.
LERMEN, L.; SORDI, T.J.; CASIMIRO, E.L.N. Efeito das diferentes formas e dosagens de aminoácidos no tratamento de sementes da ervilha. Centro Universitário FAG, Paraná.
LIMA, M.G.S.; MENDES, C. R.; NASCIMENTO, R. do; LOPES, N. F.; CARVALHO, M. A. P. Avaliação bioquímica de plantas de milho pulverizadas com ureia isolada e em associação com aminoácidos. Revista Ceres, v.56, p.358-363, 2009.
MESQUITA, C.M. et al. Manual do café manejo de cafezais em produção. EMATER, Belo Horizonte, 2016. 72 p. il.
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA (Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br)
QUAGGIO, J.A.; SOUZA, T.R. Fertirrigação disponibiliza água e nutrientes ao cafeeiro. Visão Agrícola, Piracicaba, n. 12, p. 72-75, 2013.
THOMAZIELLO, R.A. Uso da poda no cafeeiro: por que, quando e tipos utilizados. Visão Agrícola, Piracicaba, n. 12, p. 33-36, 2013.
Autores
- Ing. Agr. Maestría en Ciencias. Aline Tramontini dos Santos
- Ing. Agr. Maestría en Ciencias. Carolina Custodio Pinto
- Ing. Agr. Maestría en Ciencias. Thiago Stella de Freitas